Aeroclube de Sergipe: da Segunda Guerra Mundial à formação de pilotos


O g1 ouviu associados que falaram sobre a história do lugar e sobre a influência do aeroclube em suas vidas. Aeronave no pátio do Aeroclube de Sergipe
Leonardo Barreto/ g1
O prédio da sede resiste ao tempo e nos leva a 1939, ano em que o Aeroclube de Sergipe foi inaugurado. Durante mais de oito décadas, o local que foi palco para a formação de pilotos também teve a sua história marcada por ter sido o ponto de partida para o resgate de vítimas de um ataque alemão na costa sergipana, o que segundo historiadores selou a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
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Inaugurado pelo empresário e piloto Walter de Assis Ferreira Baptista, o espaço se tornou o primeiro aeroporto de Sergipe. Antes, os aviões chegavam ao estado pousando nas águas do Sergipe, na região da Rua da Frente.
O prédio da sede do aeroclube é preservado e mantém o padrão da inauguração
Arquivo pessoal
Pouco anos após a inauguração, o aeroclube cumpriu uma de suas funções mais nobres: apoiar o salvamento de pessoas. No ano de 1942, foi do aeroclube que partiram os voos para resgatar sobreviventes, e também corpos, na região do Mosqueiro, em Aracaju, após um submarino alemão torpedear três navios na costa sergipana.
Acima estão as valas para sepultamento dos corpos, abaixo um dos navios atingidos
Acervo do Aeroclube de Sergipe
“Três navios foram afundados, deixando 551 vítimas fatais. O Aeroclube de Sergipe participou ativamente das buscas e do salvamento dessas vítimas, com pilotos civis, durante três dias, sem experiência, sem os equipamentos adequados, eles realizaram aquela que foi a primeira missão de busca e salvamento em território nacional”, disse André Cabral, vice-presidente do Grupo Sergipano de Estudos da Força Expedicionária Brasileira.
O historiador Amâncio Cardoso lembrou que as aeronaves que partiram do Aeroclube tinham também a missão de recolher destroços.
“Os aviadores, também levaram médicos e ajudaram no sepultamento dos corpos na praia. O Aeroclube deu sua contribuição humanitária, após o ataque alemão em nossa costa”, falou.
Aeroclube de Sergipe: da Segunda Guerra mundial à formação de pilotos
A história do aeroclube possui outros capítulos importantes, um deles, marcado pela tristeza. Em 1998, o aeroclube não era cercado por muros e moradores da Zona Norte de Aracaju costumavam atravessar a pista para encurtar o caminho, foi assim que uma menina e cinco anos morreu quando uma aeronave decolava. A menina foi atingida e não resistiu.
Pátio do Aeroclube de Sergipe
Leonardo Barreto
O tempo passou e a história triste dá lugar a outras que apontam para um futuro promissor. Nesta segunda-feira (23), aeroclube celebra 84 anos de fundação, cheio de histórias e servindo à formação de novos pilotos que colocam pequenas e grandes aeronaves no ar.
Francisco Faria, diretor institucional do Aeroclube de Sergipe
Leonardo Barreto
“Aqui é um clube de aviadores. É aqui que aficionados pela aviação se reúnem para curtir, para aprender e também ensinar. Aqui é uma escola. Passamos 22 anos sem formar pilotos aqui, por uma série de motivos, mas já retornamos para trazer muito mais pilotos para esse fascinante mundo que é a aviação”, pontuou Francisco Faria, diretor institucional do Aeroclube de Sergipe.
Francisco também destacou que até hoje o Aeroclube também serve como um espaço da facilitação de serviços.
“Os resgates feitos pelo Grupamento Tático Aéreo (GTA) são trazidos para cá e daqui as ambulâncias levam para os hospitais. Órgãos de segurança fazem treinamento aqui. Esse é um espaço para toda sociedade”, falou.
Para quem quer conhecer mais sobre aviação ou até mesmo se tornar piloto, o Aeroclube é quase sempre, a porta de entrada.
Associados do Aeroclube de Sergipe
Leonardo Barreto/ g1 SE
“Aqui foi onde eu tive o meu primeiro contato com a aviação. Esse lugar foi a base para alimentar o meu sonho. O processo para se tornar piloto é semelhante ao que temos hoje para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). É preciso ter uma carteira médica que comprove sua capacidade física para exercer a atividade, é preciso buscar um curso teórico para ter a aprovação na banca da Anac e depois é preciso fazer as aulas práticas, que precisam somar 45 horas de voo e então você faz o voo de check [para comprovar a aeronavegabilidade], e conseguir sua carteira de piloto privado”, explicou.
Sala de aula no Aeroclube de Sergipe
Leonardo Barreto/ g1
As aulas teóricas são ministradas em uma sala instalada em um hangar. Em cada espaço, histórias se cruzam, relatos de gente que chegou ao aeroclube fascinado pela aviação, e que hoje ensina a novos pilotos como colocar uma aeronave no ar.
Everton Ribeiro – piloto
Leonardo Barreto/ g1
“Cheguei aqui em 1979, quando um tio meu frequentava aqui. Um primo resolveu ser piloto e eu, aos cinco anos de idade o acompanhava. Fui crescendo com esse foco. Em 1998 fiz o curso de piloto privado e hoje sou piloto comercial, minha história começou aqui”, contou Everton Ribeiro.
A história de Everton também é compartilhada pelo piloto Antônio Gama, que hoje é representante regional da Associação Brasileira de Pilotos de Aeronaves Leves (Abul).
Antônio Gama – piloto
Leonardo Barreto/ g1
“Comecei aqui com 16 anos e hoje estou com 58 anos. Gostaria que tivéssemos mais adeptos. As pessoas que não conhecem a aviação, precisam conhecer o quanto é segura, o quanto ela tem um custo operacional baixo. Hoje comprar um avião é mais barato que muitos carros.
Aeronave decolando do Aeroclube de Sergipe
Leonardo Barreto/ g1
Há oito décadas, o aeroclube segue formando, fascinando e reunindo gente que encontra na aviação o jeito perfeito de chegar às nuvens.
Manoel Figueiroa tem 80 anos e é piloto civil
Leonardo Barreto/ g1 SE
“Voar é estar mais próximo de Deus. Quando nós subimos temos uma visão de cima, espetacular, totalmente diferenciada e a gente sente a presença de Deus nos conduzindo nos ares de Sergipe”,, disse o piloto Manoel Figueroa.
Aeronave decolando do Aeroclube de Sergipe
Leonardo Barreto/ g1
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