Conselho vota nesta quinta aprovação de usina em Fortaleza que pode pôr em risco internet no Brasil


Governo do Ceará tem projeto para criar usina que remove sal da água do mar na Praia do Futuro, em Fortaleza, por onde passam cabos de fibra ótica que mantém o país conectado à internet. Implantação do cabo submarino de fibra ótica em Sines, Portugal
Divulgação/EllaLink
O Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema) vai votar nesta quinta-feira (19) se aprova ou não o projeto da usina de dessanilização no fundo do mar da Praia do Futuro, em Fortaleza, apontada por empresas de comunicação como um risco para o fornecimento de internet no Brasil.
Conforme a TelComp, associação de operadoras do país, o risco é que a estrutura da usina acabe rompendo os cabos submarinos que chegam a Fortaleza de outros países e garantem o abastecimento de internet no Brasil.
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O Coema é composto por 39 membros, entre representantes de órgãos públicos, de universidades e instituições da sociedade civil, como entidades de classe de profissionais e do movimento ambiental.
O conselho é vinculado à Semace, que, entre outras funções, é responsável por emitir o licenciamento ambiental para obras no Ceará. A votação nesta quinta-feira (19), portanto, vai avaliar se a Semace vai emitir ou não o licenciamento ambiental para que a obra possa seguir.
O objetivo da usina, que tem estrutura no fundo do mar, é remover o sal da água e aumentar em 12% a oferta de água potável para a população da Grande Fortaleza. Desde que o projeto foi anunciado na Praia do Futuro, empresários temem que a estrutura seja danificada e que o país fique off-line.
A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), responsável pela usina, diz que o temor das operadoras é infundado porque a companhia já alterou o projeto inicial e retirou parte da estrutura da usina de perto dos cabos.
Renan Carvalho, diretor-presidente da Águas de Fortaleza, empresa responsável pelo projeto da usina, afirma que a torre de captação da planta foi propositalmente projetada de modo que a velocidade de entrada da água na estrutura seja inferior à velocidade da água no entorno. Dessa forma, é improcedente que o movimento causado pela usina possa causar o rompimento de cabos na região.
Fortaleza é o ponto central dos cabos que abastecem a internet no Brasil
Globo/Reprodução
Para entender a polêmica, é preciso saber o que está sendo construído e onde:
A Praia do Futuro, no litoral de Fortaleza, é um dos locais no Brasil mais próximos da Europa e por isso é o lugar que primeiro recebe cabos de fibra ótica da Europa; a partir da capital cearense, esses cabos vão para Rio de Janeiro, São Paulo e outros países da América Latina. Ou seja, se os cabos foram rompidos no Ceará, o serviço de internet é afetado em todo o continente.
A estrutura da usina começa no fundo do mar, próximo aos cabos que vêm da Europa; depois segue para terra firme, onde vai ocorrer de fato o processo de dessalinização da água e a distribuição para a cidade.
Projeto original e mudanças
Inicialmente, o projeto previa que a torre de captação de água da usina, que fica no fundo do mar, passaria sobre alguns cabos.
Em um segundo momento, o local de instalação da usina foi desviado, o que continuou gerando temor por parte das empresas de internet (veja imagem abaixo).
Usina de remoção do sal da água do mar em Fortaleza: o fio verde representa a estrutura da usina; e os laranja, cabos de fibra ótica que garantem fornecimento de internet
Reprodução
Em um terceiro projeto, a Cagece afirma que a estrutura da usina passará a 500 metros da rede de fibra ótica (confira a imagem abaixo).
Projeto atual da usina de remoção do sal da água do mar em Fortaleza: fios laranjas representam cabos de fibra ótica; e a linha roxa, a estrutura da usina
Reprodução
Com a nova mudança, segundo Neuri Freitas, diretor-presidente da companhia, qualquer risco de afetar os serviços de internet no país está descartado.
“A nosso ver, isso está totalmente resolvido, não vamos trazer nenhum risco, buscamos a conciliação. A gente acha que não há esse risco já que no continente todos os cabos cruzam com alguma estrutura, como rede de gás, de energia e diversas outras estruturas”, afirmou.
Mas os empresários do setor e pesquisadores discordam.
Usina terá torre submersa para captar água do mar a 14 metros de profundidade
SPE Águas de Fortaleza/Reprodução
Temor de queda da internet continua
Apesar da distância entre a usina e os cabos de fibra ótica, o receio de deixar o Brasil offline continua.
“A usina vai puxar água do assoalho oceânico para tirar o sal. Essa sucção vai alterar o fundo do mar, mudando a topografia da região. E, mudando a topografia, os cabos vão se movimentar, o que também pode causar o rompimento de algum deles”, afirma o professor de Engenharia da Computação na Universidade Federal do Ceará (UFC) Yuri Victor Lima de Melo.
Renan Carvalho, diretor-presidente da Águas de Fortaleza, empresa responsável pelo projeto, construção e operação da Dessal, afirma que a torre de captação da planta foi projetada de modo que a velocidade de entrada da água na estrutura seja inferior à velocidade da água no entorno. Portanto, a possibilidade de alterar a topografia, conforme Carvalho, é “totalmente improcedente”.
Ainda conforme pesquisadores, o risco de dano ao cabeamento é permanente: já que a usina estará sempre em atividade, e possivelmente gerando movimento no assoalho (fundo do mar).
Entenda por que empresas temem a queda da internet no Brasil por obra de usina em Fortaleza
Getty Images via BBC
“Mudando a topografia, os cabos vão se movimentar, o que também pode causar o rompimento de algum deles”, diz o professor.
Como funciona a usina
Entenda como vai funcionar a usina que remove sal da água do mar em Fortaleza
A usina de dessalinização opera nas seguintes etapas:
Captação da água no fundo do mar: a torre de captação e as tubulações são as estruturas da usina que ficam dentro do mar da Praia do Futuro. A água será captada a pouco mais de um quilômetro da costa, com torre submersa a 14 metros de profundidade. A água captada é levada a uma área de tratamento.
Remoção do sal: a água passa por três etapas de tratamento, até ter o sal removido. A água do mar é pressionada contra membranas, que barram a passagem das moléculas de sais. Assim, duas soluções são criadas: solvente (água) de um lado, soluto (sal) do outro.
Distribuição: a água sem o sal é levada a uma central da Cagece, de onde é distribuída para casas e estabelecimentos. O sal separado da água é levado de volta ao mar.
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