Junior erra alvos no primeiro álbum solo ao tentar se enquadrar na moldura pop do mercado


Embora seja coautor das dez faixas, artista deixa de imprimir a própria assinatura em disco dominado por compositores e produtores de estrelas como Luísa Sonza e Pabllo Vittar. Capa do álbum ‘Solo – Vol. 1’, de Junior
Divulgação
Resenha de álbum
Título: Solo – Vol. 1
Artista: Junior
Edição: Jack Promoções sob licença da Virgin Music Brasil
Cotação: ★ ★ 1/2
♪ “Todo mundo é alvo / Tentando acertar”, dispara Junior em versos de Tentando acertar, uma das dez músicas do primeiro álbum individual do cantor, compositor e músico paulista, Solo – Vol. 1, apresentado na noite de ontem, 29 de outubro.
Composição creditada a Junior em parceria com Barbara Dias, Jenni Mosello, Lucs Romero e Thalles Horovitz, Tentando acertar é exemplo do corrente pop industrializado ouvido na maior parte das faixas do disco. A faixa também mostra como Junior erra alvos quando estabelece conexões infrutíferas como produtores e hitmakers recorrentes em discos de Anitta, Iza, Luísa Sonza e Pabllo Vittar, entre outros nomes do mainstream do universo pop brasileiro.
O time de compositores e/ou produtores do álbum Solo – formado por nomes como Bárbara Dias, Bibi (nome artístico de Gabriele Felipe), Dudinha, Felipe Vassão, Jenni Mosello, Lucas Vaz (produtor musical da empresa Canetaria), Lucs Romero, Ruxell (codinome de Ruan Fernandes), Pablo Bispo, Thalles Horovitz e Vivian Kuczynski – dilui a identidade artística de Junior.
Diferentemente da irmã Sandy, que imprimiu a própria assinatura logo no primeiro álbum solo, Manuscrito (2010), Junior soa sem personalidade neste primeiro disco solo de carreira que, após o fim da dupla Sandy & Junior, incluiu passagens pela banda Nove Mil Anjos em 2008, pelo grupo de música eletrônica Dexterz (de 2009 a 2014) e pelo duo Manimal, posto na pista em 2016.
Junior lança o primeiro álbum solo com dez músicas autorais assinadas com diversos parceiros
Ivan Erick / Divulgação
Quando o álbum Solo termina, após dar sinais de repetição evidenciados na faixa final Paraquedas (Junior, Jenni Mosello, Thalles Horovitz e Deco Martins), fica a sensação de Junior, por ora, não conseguirá escrever a “nova história” mencionada em verso da canção Sou.
“Hoje eu consigo perceber/ Tudo o que vivi não foi em vão/ Aprendi que posso escrever uma nova história”, canta Durval de Lima Junior, aos 39 anos, nessa música composta pelo pai do artista, Xororó, com os parceiros Tony e Kleber, e burilada por Junior para se adequar ao tom pop do disco Solo.
Ofertada por Xororó ao filho quando Junior lutava contra o desânimo imposto pela pandemia de covid-19, Sou esboça emoção real que floresce em outra faixa assinada por Xororó com Junior e com os parceiros Tony e Kleber, O dom.
Balada de ares épicos que ambiciona arenas e ginásios, O dom sobressai no disco, inclusive pelo arranjo que realça o toque envolvente da guitarra de Felipe Coimbra, mas mostra que falta viço à voz bem colocada – mas sempre opaca – de Junior (Jão, mais vocacionado para temas intensos, certamente conquistaria multidões se cantasse O dom).
A faixa mais interessante do álbum é F…-se, na qual Junior declama – sobre programações e teclados pilotados pelo próprio Junior – um texto interessante e levemente mordaz de Dani Black sobre a arte de desligar a mente para as opiniões alheias. É quando Junior mais ousa.
Infelizmente, a ousadia se esgota nessa faixa, turbinada com refrão e com a presença de Sandy no backing vocal. Na quase totalidade das faixas do primeiro volume de Solo (o segundo sai em 2024 com outras onze músicas e dois interlúdios), o artista segue fórmulas para se enquadrar na moldura pop do mercado.
A trivialidade é acionada pelo pop funkeado Gatilho (Junior, Vivian Kuczynski, Barbara Dia, Lucas Nage e Jenni Mosello) e por Novo olhar (Junior, Thalles Horovitz e Felipe Vassão), pop sintetizado com timbres dos anos 1980.
Canção que acena para o R&B contemporâneo, Ninguém é santo (Junior, Vivian Kuczynski, Barbara Dias, Filipe Toca e Felipe Vassão) tem sensualidade latente que nunca brota, mesmo quando Junior experimenta registro mais forte ao fim da gravação.
Dentro do padrão pop (per)seguido por Junior no disco Solo, é justo mencionar que De volta pra casa (Junior, Bibi, Mayra e Thalles Horovitz) – faixa escolhida para abrir os trabalhos promocionais do álbum – tem bom refrão. E traz o artista na bateria.
Já Passar dos danos (Junior, Vitor Kley, Jenni Mosello e Lucas Nage) chama atenção por rebobinar verso do samba Cotidiano (Chico Buarque, 1971) – “Todo dia ela faz tudo sempre igual” – em outro contexto temático, o que explicaria a ausência do crédito de Chico Buarque como autor do verso.
Enfim, Junior Lima mais erra do que acerta alvos no primeiro volume do álbum Solo. Faltou delinear mais a própria assinatura artística para começar de fato a escrever uma nova história. Não basta tirar o Lima do nome artístico para iniciar ciclo na discografia…
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