Lula Queiroga poetiza o ‘apagão da humanidade’ em contundente álbum solo


“Eu não sou seu camarada /
Nunca serei conivente /
Não sou seu sócio em nada /
Não sou amante ou parente /
Eu desconheço seu rosto /
Mas reconheço a serpente /
Quando o chocalho do rabo /
Chacoalha na minha frente”
Sem meias palavras, Lula Queiroga manda recado direto a um desafeto inominado nos versos de #XôPerrengue (Lula Queiroga), merengue que integra o afiado repertório autoral do quinto álbum solo desse cantor e compositor pernambucano, Aumenta o sonho (Edição independente).
Meses após ter sido lançado em edição digital, em 7 de setembro de 2017, o disco ganha edição física em CD fabricada em embalagem digipack. O encarte dessa edição em CD reproduz as letras contundentes, gravadas com mix de sons orgânicos e sintéticos formatados pelo próprio Queiroga com Paulo Germano e Tostão Queiroga, coprodutores do disco.
Contudo, há espaço para o respiro melódico de bela canção, Tardinha (Lula Queiroga e Manuca Bandini), formatada em registro acústico conduzido pelo toque do violão de Rogério Samico. Em que pese o ameno clima musical de Tardinha, há certa aflição e urgência nos versos da canção cuja poética romântica se alinha com a solidão de Não há nada lá fora (Lula Queiroga), outra canção de amor ausente.
Lula Queiroga
Divulgação / QRG
A ansiedade solitária é um dos sentimentos que moldam o expressivo painel poético e sonoro do repertório do álbum Aumenta o sonho, como exemplifica Casa coletiva, parceria de Queiroga com o carioca Pedro Luís. Aliás, as audições de músicas como Casa coletiva, Amor roxo (Lula Queiroga) e da composição que batiza o disco, Aumenta o sonho (Lula Queiroga), remetem ao cancioneiro de Lenine.
A evocação soa natural porque Queiroga é um dos principais parceiros do conterrâneo Lenine, com quem o artista, aliás, debutou no mercado fonográfico há 35 anos com álbum arranjado e gravado de forma conjunta, Baque solto (1983). Da parceria com Lenine, Queiroga rebobina A balada do cachorro louco (Fere rente) (Lenine, Lula Queiroga e Chico Neves, 1997), música lançada na voz do parceiro há 21 anos.
Com pegada roqueira em Rio-que-vai-e-volta (Lula Queiroga), o álbum Aumenta o sonho – o primeiro de Queiroga desde Todo dia é o fim do mundo (2011), grande disco lançado há sete anos – expõe a efervescência criativa que pauta a obra solo de Lula Queiroga, compositor que divaga sobre “o vazio humano absoluto” no “grande apagão wi-fi da humanidade”, para citar versos do discurso meio rapeado de Futilosofia (Lula Queiroga e Fabrício Belo).
“Minha cabeça é meu Deus”, resume o artista, sob o toque do cello de Fabiano Menezes, na derradeira música Minha cabeça é o fim (Lula Queiroga e Yuri Queiroga). Em Aumenta o sonho, Lula Queiroga canta como se todo dia fosse o fim do mundo. Aumente o som para ouvir bem! (Cotação: * * * *)
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