Segundo painel da Agenda ESG abordou questões de desigualdade de raça e gênero


Debates sociais aconteceram no segundo encontro da Agenda ESG, do Grupo Tribuna, nesta quinta-feira (26) Especialistas abordaram temas ligados ao Eixo S da sigla ESG
Vanessa Rodrigues/Grupo Tribuna
Apesar de ser uma das maiores economias do mundo, o Brasil está entre os dez mais desiguais do planeta. Ivan Lima, líder do Lide Equidade Racial, enfatizou que ‘o ESG precisa ser adaptado para abordar essa questão social complexa’.
Segundo pesquisa citada pelo especialista, 78,9% da população brasileira mais pobre é composta por negros, enquanto 72,3% dos mais ricos são brancos, demonstrando a desigualdade, sobretudo, racial.
No segundo encontro da Agenda ESG, promovida pelo Grupo Tribuna, que ocorreu nesta quinta-feira (26), o eixo “social” – representado pela letra “S” na sigla ESG, que se refere a critérios ambientais, sociais e de governança – foi o foco central das discussões.
O segundo painel reuniu especialistas para abordar questões relevantes relacionadas à desigualdade social e representatividade nas empresas.
De acordo com Lima, é necessário que o futuro seja moldado no presente, com o protagonismo sendo dado a pessoas que possuem propriedade na fala e tenham conhecimento sobre a história do Brasil.
Ivan Lima, líder do Lide Equidade Racial
Vanessa Rodrigues/Grupo Tribuna
Cultura empresarial
Andrea Napolitano, por sua vez, expressou sua perspectiva sobre o espaço e o poder. Ela é fundadora da startup sem fins lucrativos Akiposso+, que leva acesso às pessoas em vulnerabilidade, e acredita que é necessário conquistar o espaço antes de ter o poder, demonstrando competência e resiliência para chegar lá.
“Eu já atingi cargos altos através de sistema de cotas. Ser mulher no mercado de trabalho sempre foi difícil, mas eu respondo isso entregando os melhores resultados”, disse Andrea.
Na visão da especialista, conquistar poder dentro de uma instituição sendo uma mulher é uma tarefa complicada. O machismo dentro das corporações ainda impede a diversidade de gêneros entre os cargos.
De acordo com Andrea, é possível adentrar esses ambientes com foco e entrega de resultados.
“Temos que ter espaços antes de ter poder para provar nossa competência. Só cheguei no lugar que cheguei mostrando minha qualificação. Precisamos mostrar nossos melhores resultados, para calar quem não acredita em nós”, salientou.
Andrea Napolitano, painelista do segundo encontro da Agenda ESG
Vanessa Rodrigues/Grupo Tribuna
ESG na prática
Scarlett Rodrigues, coordenadora do Instituto Ethos, abordou a participação ativa da empresa na vida profissional e pessoal dos colaboradores. Ela afirma que as instituições devem olhar para os trabalhadores como pessoas, e não apenas como funcionários.
“Precisamos tirar o lado ‘CNPJ’ e considerar o corpo que lidera a empresa. É necessário falar de seres humanos, para, depois, debater questões empresariais”, apontou.
Scarlett ressaltou a importância de ter representatividade negra em posições de decisão, afirmando que o poder só será possível quando os negros estiverem presentes nesses espaços.
“Para ter políticas e práticas mais assertivas, temos que trabalhar a perspectiva do diagnóstico da empresa. As empresas podem já ter funcionários negros, mas eles não estão em cargos estratégicos”.
A profissional ainda afirmou que falar sobre o campo social das empresas vai além de envolvimento em projetos sociais. “Social de verdade é geração de emprego com qualidade, igualdade salarial, saúde mental, entre outras diversas coisas”.
Responsabilidade racial
A coordenadora afirma que a responsabilidade de combate ao racismo é de pessoas que não são negras. Junto a isso, a violação de direitos e igualdade precisam ser observadas pelas lideranças das empresas.
“A responsabilidade de combater o racismo não é das pessoas negras. É preciso se atentar à saúde mental dos trabalhadores negros, já que, segundo estatísticas, eles recebem 42% a menos do que uma pessoa não-negra. As empresas precisam reparar essas violações e promover justiça social”
Scarlett Rodrigues abordou questões raciais no encontro
Vanessa Rodrigues/Grupo Tribuna
Inclusão na empregabilidade
Andrea também enfatizou a necessidade de as empresas estarem mais abertas à diversidade. “As pessoas, atualmente, não contratam pessoas com deficiência. O problema está em como os recrutadores e toda a cultura empresarial estão recebendo essas pessoas para destravar esses talentos”.
De acordo com pesquisa do IBGE, em 2019, a taxa de participação para pessoas com deficiência (28,3%) era menos da metade do que entre as pessoas sem deficiência (66,3%).
Esse indicador mede a proporção de ocupados e de desocupados entre as pessoas com 14 anos ou mais de idade.
Ivan encerrou o painel abordando a questão da dificuldade das pessoas negras se candidatarem e destacando a importância de admitir a existência do racismo e transformar a teoria da diversidade em prática inclusiva.
“Durante muitos anos, tivemos uma ideia racista implantada de que não existia racismo no Brasil. Tanto o racismo, quanto o ESG, são pautas que precisam da consciência da sociedade e das empresas de que existem, sim, pontos a melhorar”, explicou.
Propriedade de fala entre painelistas
Os mediadores do painel, Arminda Augusto e Gesner Oliveira, consideraram o debate importante para a transformação social.
“Fico feliz por termos falas de pessoas com propriedade. São falas que não transitam pelos ambientes com frequência, que possuem legitimidade e provocam reflexões”, disse Arminda.
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