Caça-fantasmas de Ribeirão Preto diz que já foi atacado e expulso de lugares por assombrações


Matheus Moraes faz investigações paranormais há 12 anos e afirma que trabalho é perigoso para pessoas leigas: ‘Precisa de disciplina e dedicação’. Caça fantasmas gravaram em hospital psiquiátrico abandonado em Brodowski, SP
Em 2005, Matheus Moraes participou, pela primeira vez, de uma investigação paranormal. Ele escolheu uma ala do Hospital das Clínicas, em Ribeirão Preto (SP), depois de ouvir de amigos que trabalhavam como vigias no local que por ali havia barulhos inexplicáveis no cair da noite.
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Fã de documentários e programas de TV que invadiram os canais pagos no começo dos anos 2000 atrás de lugares mal-assombrados, Matheus logo se interessou pelo assunto e topou uma visita.
“Foi terrível. Lá a coisa é brava. Você escuta chuveiro ligando, muitos passos, a porta bate”.
Matheus Moraes é investigador paranormal há 12 anos e revela que já foi expulso de lugares em Ribeirão Preto (SP) por assombrações
Arquivo pessoal
O que ele não imaginava, no entanto, é que a partir desta primeira experiência, começava o que, 12 anos mais tarde, se tornaria uma profissão.
Matheus é caça-fantasmas e coleciona mais de 100 investigações por lugares mal-assombrados na região de Ribeirão Preto e Brasil afora.
Ele já esteve em museus, hospitais psiquiátricos, hotéis, casas e casarões, mas uma história, em especial, provoca arrepios até hoje.
Matheus Moraes durante investigação paranormal na Casa dos 5 Fogos, em Ibitinga (SP), em 2015
Arquivo pessoal
Ao g1, ele revelou que foi um cemitério no distrito de Jurucê, em Jardinópolis (SP), o lugar que mais teve medo na vida. Segundo a prefeitura municipal, o primeiro sepultamento no local foi feito em 1921.
“Eu considero o local mais assombrado do Brasil. É um cemitério muito antigo, lá estão enterradas muitas crianças que morriam de mal de sete dias [tétano umbilical]. Tem muito choro de criança”, diz Matheus.
Foi lá que ele, então no começo da carreira, foi parar com uma amiga em uma noite de verão.
“A gente começou a montar o equipamento. Uma escuridão total, não tem luz, e aí os equipamentos começaram a ‘gritar’ de tudo que é lado. Depois da meia-noite, o bicho pegou. Alarme para tudo que é lado, e aí indica uma manifestação ali, uma energia, alguma coisa passando e não pode ser gato, não pode ser cachorro, porque o equipamento pega a energia, um local que não tem energia, não tem eletricidade nenhuma, e os equipamentos ‘gritando’?”
Além dos equipamentos que começaram a funcionar de uma hora para outra, Matheus conta que uma tempestade de terra chegou do nada e tomou conta do cemitério.
“Era coisa de filme de terror. Minha parceira falou ‘larga tudo, vamos embora, que eles estão nos expulsando’. O portão do cemitério bateu com toda a força e não abria, não abria. Era terra nos olhos, na garganta, uma ventania que eu nunca vi na minha, não enxergava nada”.
Para sair do cemitério, os dois pularam o muro. Já do lado de fora, a lua brilhava iluminando a rua, sem quaisquer indícios de que algo esquisito tinha acontecido ali.
“Uma lua, um céu lindo, maravilhoso, estrelado. O tempo limpo. Nunca mais voltei depois desse episódio. Se precisar voltar, eu volto, até porque hoje tenho mais preparação. Na época, não tinha tanta experiência, hoje pergunto se posso entrar. Se me falam não, é não. Acabou. Não vou afrontar”.
Marca na pele
A experiência assustadora, no entanto, não se limitou ao sufoco que Matheus passou com a amiga para deixar o local.
Segundo ele, naquele mesmo dia, já do lado de fora do cemitério e após a tempestade de terra, os dois viram quando um cachorro preto atravessou o portão e foi até eles.
“Eu não estou mentindo, é a única marca que deixaram em mim para me provar que eu não devia brincar com o que não entendia. Esse cachorro saiu lá do fundo do cemitério, passou pelo portão, e veio até minhas pernas, como se quisesse carinho. Passou entre elas, entrou no cemitério e sumiu. A gente pensou que deveria ser um cachorro de rua que dormia no cemitério e fomos embora. No outro dia, acordei com minha perna queimando igual fogo. Corri para o hospital e ouvi que se eu demorasse mais dez minutos, iria ter de amputar a perna”.
O diagnóstico era trombose, algo que surpreendeu até o médico, como conta Matheus.
“Não tem explicação, nem o médico acreditou. Ele falava ‘você é novo cara, você ter trombose! Você fuma, você bebe?’ Falei não. Ele falou ‘não tem como te explicar'”.
Ainda segundo o caça-fantasmas, aquele local na perna virou uma ferida que por meses não cicatrizava. Até que ele passou a procurar benzedores e o machucado secou.
“É a única prova física que tenho hoje no meu corpo que pode comprovar essa história do cemitério. Tem gente que pergunta se caí de moto, porque parece uma queimadura. Marcou minha vida como investigador paranormal”.
Matheus Moraes tem cicatriz na perna
Arquivo pessoal
Nada bem-vindo
Matheus conta que outro caso mais recente aconteceu durante uma visita a um casarão em restauração em Ribeirão Preto. Ele, que também trabalha com audiovisual, esteve no local com uma atriz para filmar um projeto e revela que a situação ficou tensa após as 2h da manhã.
“Comecei a sentir uma canseira, uma coisa que nunca senti antes. Ela, a mesma coisa. Quase batendo 3h da manhã, não conseguia mais ficar dentro da casa. Um frio, estava uns 2ºC lá, você soltava fumaça pela boca dentro da casa. Foi a hora de parar”.
No Museu do Café, também em Ribeirão, Matheus diz que as manifestações são ainda mais evidentes e afirma que já chegou a ser expulso do local.
“O espírito do Coronel [Francisco] Schmidt [proprietário do terreno] é muito ruim. Toda vez que a gente vai lá, ele manda a gente embora, é bem agressivo. Se você desobedece, ele começa a atacar. Ele já sabe que a gente vai lá para tentar fazer o encaminhamento dos escravos que estão lá, já sabe a nossa intenção”.
Em 2015, uma outra situação chamou a atenção do caça-fantasmas quando ele esteve em um hospital psiquiátrico abandonado em Brodowski (SP).
Isso porque, enquanto Matheus e uma investigadora estavam no andar de cima do prédio, foram acionados por outros membros da equipe, que estavam no andar debaixo. (veja vídeo mais acima)
Na gravação, Matheus se mostra surpreso ao saber que um dos investigadores o ouviu chamando por ele. (veja transcrição do diálogo abaixo)
– Você chamou a gente neste momento?
– De forma alguma
– Então… nós escutamos… houve como se tivessem chamado no HT [rádio comunicador] aqui, ok?
– Não, não fomos nós, não. Estamos aqui no andar de cima, vamos continuar.
– Você está no mesmo andar que a gente ou subiu um andar pra cima?
– Subi um andar pra cima… [neste momento, a parceira de Matheus diz que está com medo]… Desligo.
Trabalho perigoso para leigos
Matheus explica que durantes as investigações, costuma captar espíritos perdidos, chamados de manifestações residuais — que é quando eles ainda acham que estão vivos — e também espíritos que sabem que morreram, mas não querem sair do lugar onde estão.
Por isso mesmo, o caça-fantasma diz que é importante saber com quem está lidando e, ao primeiro sinal de qualquer negativa no contato, é preciso deixar o local.
“Tem de obedecer. Em primeiro lugar, a gente tem de ter respeito, porque, queira ou não queira, a gente está invadindo o lugar, a terra dele. Tem de pedir licença, autorização. Todo lugar tem um dono, então você tem de pedir licença. E se mandam a gente embora e a gente desobedece, eles começam a atacar”.
Equipe utiliza câmeras térmicas para captar manifestações durante investigação paranormal em Ibitinga (SP)
Arquivo pessoal
Segundo ele, por envolver o sobrenatural, este tipo de trabalho requer cuidado e, acima de tudo, conhecimento.
“Em primeiro lugar, requer muita disciplina e muito estudo, muita preparação, ler muito sobre o espiritismo. É perigosíssimo um leigo fazer esse trabalho. Hoje, se você entra nas redes sociais, vê um milhão de caça fantasmas, mas 90% está despreparado. É pessoa que inventa um fantasma e não sabe o perigo que está correndo. A maioria vai pra ganhar visualização e, nessa busca incansável por audiência, comete erros”.
Ainda segundo o caça-fantasma, desrespeitar um espaço ou um espírito pode colocar a pessoa em uma situação delicada.
“Eles não sabem o perigo que estão correndo. Eu vejo caça-fantasma no YouTube xingando espírito, afrontando ‘ó, vou te bater, porque você não vem aqui me matar’. E não é por aí, estão desrespeitando o lugar. Primeiro porque o lugar não pertence aos vivos e eles vão lá, não tem nenhuma preparação, não fazem nenhum pedido [de licença]. Chegam, pulam muro, entram e fazem uma bagunça. Essas pessoas vão ficar obsediadas para o resto da vida. A hora que viram as costas para ir embora, os espíritos vão com elas”.
Matheus Moraes durante investigação paranormal em um casarão abandonado em São Simão (SP)
Arquivo pessoal
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