Exportadora de café investigada por não pagar produtores tem 60 dias para apresentar plano de recuperação


A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso da empresa de Varginha (MG). Prejuízo causado aos produtores pode chegar a R$ 300 milhões. Exportadora de café investigada por não pagar produtores tem 60 dias para apresentar plano
A Justiça concedeu 60 dias para que a exportadora de café de Varginha (MG) investigada por não pagar produtores e corretores apresentar um plano de recuperação. O valor do prejuízo causado pela empresa pode chegar a R$ 300 milhões.
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Com o pedido deferido, a empresa agora tem dois meses para definir como os clientes vão ser pagos.
“É uma série de fatores que fizeram com que a empresa postulasse a recuperação judicial. O cumprimento das exigências da lei foi demostrado ao Poder Judiciário que deferiu o processamento da recuperação. Fatores de inadimplência, fatores de safra, fatores temporais, uma série de situações que justificaram o manejo desse instrumento jurídico”, disse o advogado de defesa da empresa, Gustavo Chalfun.
Os atrasos nos pagamentos começaram dos pagamentos começar há três meses. Um corretor de café negociou, segundo ele, mais de 1 mil sacas com a exportadora em julho. Até o momento, ele diz ter recebido 50% do valor. A outra metade deveria ter sido paga há quase um mês.
“No dia 2 de setembro, eu e o cliente fomos para conversar com ele. Ele pediu 20 dias de prazo, não cumpriu o prazo e sumiu. Estamos aqui em uma situação difícil. A gente não está em condições de trabalhar mais”, disse um produtor que preferiu não se identificar.
Além do Sul de Minas, a exportadora tem clientes em outras regiões dentro e fora do estado. Um advogado representa cerca de 30 produtores da Zona da Mata mineira, que também não receberam o pagamento.
“Alguns fizeram a venda da totalidade de suas produções, entregaram esse café e não receberam. Ou seja, há uma lacuna de um ano no faturamento da produção da fazenda. Isso é cabal, vai ter muita gente que não vai conseguir se reerguer se não tiver o recebimento desses valores. A Justiça precisa ver com os dois olhos, de uma empresa que está tentando se recuperar, mas também do produtor que tem afetado a sua lavoura, a sua produção anual, seu faturamento anual e que tem responsabilidade com seus empregados, com as empresas em que ele fez compra para conseguir produzir [compra de maquinário e fertilizante]”, explicou o advogado Vinícius Souza Barquete.
Exportadora de café investigada por não pagar produtores tem 60 dias para apresentar plano de recuperação
Reprodução/EPTV
O modelo de contrato utilizado pela empresa é conhecido no setor como compra e venda futura. Embora tenha benefícios, tanto para quem compra quanto para quem vende, traz também riscos.
“Quando faço a venda de algo que ainda não produzi, estou sujeito a todos os riscos da não produção. Estamos falando de riscos climáticos, de riscos políticos, de, por exemplo, guerra que afeta produção de fertilizante, que vai afetar no desenvolvimento da lavoura em si. Então, tem todos os riscos de se lançar uma operação no futuro. Mas, em regra, esse contrato é muito utilizado no mercado, porque, na verdade, ele traz benefícios de planejamento, que é um fator de dificuldade no agronegócio, de planejar o que vai acontecer. Ai, se existem ferramentas de planejamento, elas são utilizadas porque são vantajosas”, acrescentou o advogado.
A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar o caso. De acordo com o boletim de ocorrência registrado por três produtores, a empresa negociou a venda de 89,5 mil sacas de café.
Metade do valor da venda seria pago em 12 dias e o restante em cerca de dois meses. Após o prazo, a empresa pediu mais tempo e, mesmo depois do novo combinado, o pagamento não foi feito.
Apenas para os três produtores que registraram o BO o prejuízo é de cerca de R$ 73 milhões. No total, o valor pode chegar a R$ 300 milhões.
“Esse dinheiro tem que aparecer. E ele acertar com todo mundo. Porque isso vai prejudicar não só o ramo do café, vai prejudicar tudo, comércio, tudo. São muitas famílias que estão prejudicadas com isso”, disse um dos produtores.
A defesa da exportadora informou que a Justiça encaminhou ofício à Polícia Civil informando sobre a recuperação judicial. Disse, ainda, que ninguém da empresa foi intimado a prestar qualquer esclarecimento.
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