Diretor de Inteligência da Controladoria Geral do Estado é sócio de empresa de contraespionagem e varredura eletrônica


Líder da Oposição na Alep pediu informações e providências sobre o servidor e sobre a diretoria. Governo nega conflito de interesse. Procurado, servidor não respondeu. Uso de sistema de monitoramento de celulares volta a ser discutido na Alep
O diretor de Inteligência e Informações Estratégicas da Controladoria Geral do Estado do Paraná (CGE), Mehdi Mouazen, é sócio de uma empresa especializada em serviços de contraespionagem e varredura eletrônica.
De acordo com o Portal da Transparência, Mouazen começou a trabalhar no governo estadual em outubro de 2020, como servidor comissionado da Casa Civil – um mês depois da abertura da empresa “Gralha Tec”.
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A companhia da qual Mouazen é sócio fica em um prédio na Avenida Cândido de Abreu, no Centro Cívico de Curitiba, a alguns metros do Palácio Iguaçu.
O site da empresa mostra que, entre os serviços oferecidos, estão consultoria e gestão de serviços de segurança pessoal, patrimonial, de condomínios e empresas, com experiência na análise sistemática de protocolos de segurança para atuar de forma preventiva, ampliando a metodologia usada em grandes agências governamentais de inteligência.
Entre os serviços ofertados, segundo o site, estão contraespionagem, que “alia experiência e tecnologia na varredura de ambientes, localizando grampos, gravadores, escutas e câmeras ilegais”, além de “consultoria para criação de salas seguras que utilizam os protocolos mais avançados de segurança”, diminuindo, segundo a empresa, “chances de vazamento de informações de empresas e chefes de estado”.
Mehdi Mouazen foi citado pelo deputado líder na Oposição na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Requião Filho (PT), em num pedido de providências enviado semana passada diretamente ao ministro da Justiça, Flávio Dino. O deputado enviou também um pedido de informação ao governo do Paraná.
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O diretor de Inteligência da Controladoria Geral do Estado, Mehdi Mouazen
Divulgação
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) disse que recebeu o pedido do deputado e vai avaliar os possíveis encaminhamentos. Já o Ministério da Justiça disse que Dino ainda não recebeu a documentação.
Procurados pela RPC, Mouazen, a empresa Gralha Tec, e o Ministério Público Federal (MPF) não deram resposta.
O documento traz uma série de questionamentos sobre a contratação pelo Paraná da mesma empresa fornecedora do sistema usado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A agência foi alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga a suspeita de monitoramento ilegal de pessoas durante o governo de Jair Bolsonaro.
Nesta segunda-feira (30), o governador Ratinho Junior (PSD), defendeu o trabalho da Controladoria Geral e disse que Mehdi Moazen será mantido no cargo.
“Até então, toda a denúncia que vem sendo apresentada ela não tem nenhum fundamento. Misturaram a compra de um software da Secretaria de Segurança Pública com o trabalho que é feito pela CGE, que, aliás, é responsabilidade da CGE fazer todo um trabalho específico dos contratos que existem no estado. As equipes estão montadas e, até que se prove o contrário, a gente mantém o servidor, até porque não é nossa função julgar ninguém sem ter provas”, disse.
Ratinho Junior, à esquerda, e Mehdi Mouazen, no centro
Governo do Paraná
Em nota, o Governo do Paraná disse que a natureza do trabalho realizado pelo servidor Mehdi Mouazen em nada implica a atuação como empresário e que, portanto, não existe qualquer conflito de interesse.
A nota diz que o diretor de Inteligência é engenheiro de Software de Informação e que a empresa do servidor nunca prestou nenhum serviço ou manteve contratos com o Estado do Paraná.
Também segundo o governo, o serviço de contrainteligência praticado nas empresas do servidor nada mais é do que a varredura de sistemas ilegais de contrainformação e que, na prática, as empresas são contratadas justamente para garantir o sigilo de dados.
O governo disse também que a CGE mantém análise permanente do desempenho dos colaboradores e que, até o momento, não há qualquer identificação de irregularidade na atuação do servidor.
De acordo com o governo, não existe relação entre o serviço de inteligência estratégica, usado exclusivamente na esfera administrativa, e o serviço de inteligência policial, utilizado por forças de segurança somente com autorização judicial.
A nota afirma também que Controladoria trabalha com o cruzamento de bancos de dados abertos de diversas instituições para identificar, por exemplo, possíveis fraudes, e que é por meio da CGE, por exemplo, que o estado impede a prática de nepotismo.
A nota, porém, não responde ao questionamento sobre quem indicou Mehdi Mouazen ao governo e nem se o estado já recebeu o documento enviado pelo deputado Requião Filho.
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