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A honestidade entre o casal é ponto essencial para uma relação saudável. A questão das DSTs deve ser abordada no início do relacionamento, deixando de lado o tabu da sexualidade e a falta de intimidade (Foto: Istock/Divulgação)

 

O amor está no ar! O mês dos namorados chega e traz com ele todo o seu romantismo, levando os apaixonados de plantão a demonstrarem ainda mais o seu afeto, nessa época do ano. Mesmo para os mais reservados, é difícil esconder as transformações provocadas pelo amor. Ele aumenta o bem-estar e a autoestima, fortalece os sentimentos positivos, de otimismo e felicidade, diminui o estresse e evita transtornos psicológicos, como a ansiedade e a depressão.

Entretanto, não são apenas benefícios emocionais que aparecem. Segundo o site de curiosidades Brightside, o amor, aliado à atividade sexual, reduz os riscos de problemas cardiovasculares, diminui a pressão sanguínea, melhora o sistema imunológico, alivia dores moderadas em até 40%, evita a insônia, combate vícios e aumenta a longevidade.
Em meio a tantos aspectos positivos, contudo, não podemos esquecer dos cuidados que a vida sexual requer. Não só agora, mas durante todo o ano, devemos zelar por nós mesmos e por nossos parceiros, seguindo a famosa máxima “Quem ama, cuida”.
Nessa perspectiva, as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) constituem uma problemática que exige, cada vez mais, atenção. Acompanhando a história da humanidade, seus registros antigos indicam a predominância da sífilis, da gonorreia, do cancro mole, entre outras doenças, que aumentaram de forma significativa na década de 1960, com o advento da penicilina e da pílula anticoncepcional e, consequentemente, a emergência da “Revolução Sexual”.

O fantasma da AIDS
Esse “liberalismo” erótico durou até os anos 80, quando surgiram os primeiros casos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), a DST mais conhecida e alarmante na atualidade, uma vez que não possui vacina, nem cura, sendo a prevenção sua única defesa. No ano passado, o cenário global consistia em 36,7 milhões de infectados e 1,1 milhão de mortes relacionadas à doença, segundo levantamento do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids).
A síndrome é causada pelo vírus HIV, que mata ou danifica as células do sistema imunológico, diminuindo a capacidade do organismo de combater infecções. O período entre a contaminação e o aparecimento dos sintomas varia de oito a onze anos, mas o diagnóstico da doença pode ser feito já nas primeiras semanas após a infecção, o que torna extremamente importante a realização de exames regulares.
O principal fator de transmissão da AIDS são as relações sexuais, porém, a transfusão de sangue contaminado e o compartilhamento de agulhas – seja para transfusões, aplicação de drogas injetáveis ou tatuagens e piercings – também são fatores de risco. Além disso, a doença é transmitida da mãe para o bebê – transmissão vertical, durante a gestação e na amamentação. Assim, as medidas preventivas constituem o uso de preservativos, a limitação de parceiros e o cuidado quanto à utilização de agulhas.
Embora a doença não tenha cura, os coquetéis com novas gerações de remédios têm aumentado a expectativa de vida das pessoas contaminadas, fazendo com que a AIDS não seja mais encarada como uma sentença de morte. Esse aspecto positivo, contudo, vem resultando na negligência quanto à prevenção – segundo a Unaids, o número de infectados no Brasil aumentou cerca de 18%, entre 2010 e 2015.
Para o ginecologista e obstetra dr. Wilson Ottoboni, médico cooperado da Unimed Marília, “os principais fatores para controle da AIDS são os cuidados preventivos e a detecção precoce, uma vez que ela possibilita melhor resposta ao tratamento e menor taxa de transmissão”.

Sífilis: preocupação de longa data
A sífilis é outra DST que vem crescendo no país – segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, o número de adultos infectados aumentou 32,7% no período de 2014 a 2015. A doença bacteriana é transmitida por meio de relações sexuais e da mãe para o filho, durante a gestação ou o parto. Segundo o dr. Otobonni, “o uso correto e regular do preservativo, masculino ou feminino, constitui-se uma medida importante para a prevenção da doença. O acompanhamento da gestante, durante o pré-natal, também contribui para esse controle”.
A síndrome apresenta diversos estágios – primário, secundário, latente e terciário, que determinam seu período de incubação e sinais. Na sífilis primária, o sintoma – uma ferida, geralmente única, acompanhada ou não de íngua, no local de entrada da bactéria – surge no período de dez a noventa dias após o contágio. Por sua vez, a fase secundária da doença, que se inicia entre seis semanas e seis meses após o aparecimento da ferida, traz como sintomas manchas no corpo – principalmente, nas palmas das mãos e plantas dos pés – e ínguas.
Já a fase latente é assintomática e possui duração variável, podendo ser interrompida pelo aparecimento de sintomas da forma secundária ou terciária. Por fim, o estágio terciário configura-se como o mais grave, uma vez que seu período de incubação varia entre dois e quarenta anos e seus sintomas incluem lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, que podem levar à morte.
Como uma doença silenciosa, que muitas vezes não apresenta sintomas ou apresenta-os de forma branda, a sífilis exige cuidados intensos – a devida atenção aos sintomas, a observação dos órgãos genitais e a realização de exames, em caso de exposição a situações de risco.
No caso da sífilis congênita, transmitida da mãe para a criança, o diagnóstico inclui a história clínico-epidemiológica da mãe e exames clínicos, radiológicos e laboratoriais da criança. De acordo com o dr. Ottoboni, “caso o diagnóstico da mãe ocorra durante o pré-natal, é possível evitar a transmissão vertical para o feto, tratando a gestante o mais rápido possível, com a penicilina benzatina – único medicamento capaz de prevenir esse tipo de transmissão”. O ginecologista lembra, ainda, da necessidade de tratar o parceiro sexual da gestante, evitando assim sua reinfecção.
A sífilis congênita, quando não provoca o aborto, manifesta-se, na maioria dos casos, durante os primeiros meses de vida da criança, podendo provocar feridas no corpo, pneumonia, dentes deformados, problemas ósseos, surdez, cegueira, deficiência mental e até a morte.

HPV: incidência alarmante
Enquanto a sífilis configura-se como uma das primeiras DSTs a que se teve conhecimento, os HPVs chamaram atenção apenas na década de 1980, quando foi identificada sua relação com o câncer de colo uterino. Os HPVs são vírus, que se instalam no corpo através de micro-traumas e alteram a região infectada, provocando um crescimento irregular das células e gerando lesões, popularmente conhecidas como verrugas ou “crista de galo”.
Segundo a ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana, dra. Roberta Stocco Ottoboni, “os HPVs possuem predileção por tecidos de revestimento – pele e mucosas – e instalam-se por todo o corpo, infectando também regiões extragenitais, como o olho, a boca, a faringe e as vias respiratórias”. Sua contaminação ocorre pelo contato direto com o tecido infectado, principalmente por meio de relações sexuais, mas também pela gravidez ou parto.
O HPV é extremamente preocupante, posto que acomete de 25% a 50% das mulheres e 50% dos homens da população mundial. Além disso, como a sífilis, é uma doença silenciosa, pois a maioria de suas infecções são assintomáticas e latentes – com regressões espontâneas. Apenas 5% das pessoas infectadas apresentam alguma forma de manifestação do HPV, que pode ser clínica – verruga ou “crista de galo” – ou subclínica – assintomática e invisível a olho nu, sendo detectada por exames laboratoriais ou lentes de aumento e contraste.
O período de incubação do HPV, geralmente, varia de dois a oito meses, mas pode chegar a vinte anos. O tratamento – medicamentos e cirurgias de cauterização – raramente elimina o vírus do organismo, que pode se manifestar novamente, a qualquer momento. Apesar disso, é extremamente importante seguir as orientações do médico e usar preservativo, a fim de alcançar a “cura” da doença, uma vez que suas infecções aumentam o risco de câncer.

Dra. Roberta Stocco Ottoboni, ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana e dr. Wilson Ottoboni, ginecologista, obstetra e médico cooperado da Unimed Marília (Foto: Acervo Unimed COP)

Esperança para o HPV

Foram identificados, até o momento, mais de 150 tipos do vírus HPV. O 6º e o 11º, relacionados às verrugas genitais e o 16º e o 18º, associados ao câncer de colo uterino, são os mais conhecidos e contam com uma vacina segura e eficaz, como principal forma de prevenção. A dra. Roberta destaca a importância dessa imunização, que previne a quarta maior causa de morte de mulheres por câncer no país.
“O Ministério da Saúde recomenda a vacinação de meninas entre 9 e 13 anos e meninos entre 12 e 13 anos, sendo que a imunização, a partir de 2017, ocorre em duas doses, aplicadas com um intervalo de seis meses. Portadores do HIV e pessoas em algum estado de imunodeficiência também devem receber a vacina, entre 9 e 26 anos, em três doses, com intervalos de dois e seis meses”.
Embora a recomendação do Ministério da Saúde e a disponibilização gratuita da vacina restrinjam-se à determinada faixa etária, todas as mulheres podem ser imunizadas, independentemente de sua idade, adquirindo a vacina em clínicas particulares.
Para o dr. Wilson Ottoboni, a vacinação deve ter sua importância amplamente veiculada, pois trata-se de um meio simples, para a prevenção de uma doença que se alastra de forma alarmante, atualmente. “A imunidade adquirida por meio da vacina é muito mais eficaz que a adquirida pela infecção natural”, defende o médico.

Amor e proteção têm tudo a ver
Seguir as orientações sexuais necessárias é cuidar, não apenas de si, mas também de seu parceiro. Uma vida sexual segura e saudável exige uma relação de confiança e sinceridade. “É importante conversar com o parceiro sobre sua história médica pregressa, fazer exames regularmente e compartilhar os resultados um com o outro”, afirma o dr. Ottoboni.
Além disso, é preciso fazer apenas o tratamento indicado pelo médico e até o fim, mesmo que os sintomas tenham desaparecido, seguir a receita e tomar os remédios na quantidade e nos horários certos, evitar relações sexuais durante o tratamento e usar sempre preservativo, para evitar transmissão ou reinfecção. Acima de tudo, é importante saber que nenhuma informação substitui uma consulta com seu médico.
Com uma prevenção adequada, adotando cuidados como esses, sua única preocupação será em aproveitar os benefícios e prazeres da vida a dois. Um feliz e seguro Mês dos Namorados!

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