Entenda como pesquisa da Unicamp pode tornar inteligência artificial capaz de reconhecer emoções


Área da computação afetiva é nova fronteira para avanço da IA nos sistemas de computador, segundo cientistas. Centro de pesquisa da Unicamp torna Inteligência Artificial capaz de reconhecer emoções
Com a inteligência artificial cada vez mais presente, surge a questão: as máquinas sentem emoções? Pesquisadores da Unicamp estão trabalhando em uma tecnologia que permite a computadores identificar, expressar e até mesmo simular sentimentos.
Estas pesquisas estão sendo realizadas no Hub de Inteligência Artificial e Arquiteturas Cognitivas (H.IAAC). O centro de pesquisa investiga a computação afetiva, área da inteligência artificial que procura desenvolver as máquinas com emoções (veja exemplo no vídeo acima).
Para entender como funciona e os desafios da computação afetiva, o g1 conversou com Paula Dornhofer, professora da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) da Unicamp e coordenadora de uma das linhas de pesquisa.
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Criação de personagem virtual que expressa emoções com gestos.
Hub de Inteligência Artificial e Arquiteturas Cognitivas
💖💢 O que é computação afetiva?
Paula Dornhofer explica que a computação afetiva é um ramo da inteligência artificial que estuda algoritmos e desenvolve modelos capazes de perceber e emular emoções humanas. São máquinas que podem “sentir” e responder com sentimentos.
A partir de expressões faciais, gestos, movimentação, ou mesmo o batimento cardíaco, o sistema identifica e analisa manifestações de alegria ou tristeza, por exemplo. Estas análises podem ser feitas de forma individual, coletiva e até de animais.
“Imagina um sistema de vigilância no aeroporto que analisa se a pessoa está muito nervosa, ou irritada […] um robô feito para evitar brigas de torcida, é preciso que a IA consiga ‘enxergar’ e entender um possível crescimento de animosidade ou mesmo calmaria”, fala.
Em alguns casos, pode ser necessária uma reação também emotiva da máquina, que expresse e interaja com emoção por meio de uma simulação capaz de inspirar empatia.
“Um robô que vai cuidar de um idoso, ou de uma pessoa doente, e ele tá querendo transmitir para esse paciente ou para essa pessoa que está em um leito, algum sentimento, alguma emoção. Uma emoção de tranquilidade, uma emoção de felicidade ou de preocupação”, diz.
Captação de movimento para criação de personagens com diferentes personalidades.
Hub de Inteligência Artificial e Arquiteturas Cognitivas
👀 Como funciona?
A professora explica que as pesquisas na Unicamp procuram compreender de que forma as emoções na mente humana regulam a inteligência e as tomadas de decisões, para então poder aplicá-las nos sistemas e desenvolver as inteligências artificiais.
As pesquisas utilizam estudos feitos nos campos da psicologia e neurociência que investigam como o cérebro processa as emoções e tenta criar modelos para serem replicados.
“As nossas emoções, a todo momento, elas fazem parte do nosso processo de tomada de decisão, então, qualquer sistema realmente inteligente é artificialmente considerando aquele modelo de inteligência que imita a inteligência humana. Ele vai ter que ter a modelagem das emoções embutido nele e isso é algo que ainda não existe no sistema de inteligência artificial”, explica.
🛰️ Aplicação
Dornhofer fala de diferentes aplicações já existentes, de assistentes virtuais com capacidade de adaptar as respostas conforme o estado emocional do usuário, até personagens virtuais que reagem às emoções em jogos virtuais.
“Quando a Alexa tenta falar para você, ‘Olá, tudo bem’, ‘nossa, que legal que eu te ajudei’, ou coisas assim, ela tá tentando pôr na voz parâmetros expressivos que dão a entender que ela é realista, mas são programas bastante limitados”, conta.
No laboratório da Unicamp, as linhas de pesquisa mais avançadas estão no campo do reconhecimento das emoções, mas a que lidera tem como foco principal a simulação e a modelagem de aspectos emocionais. “Uma das grandes fronteiras nos sistemas de inteligência artificial.”
“A gente trabalha com a síntese que chamamos de gestos expressivos em avatares, a síntese de ‘deep fake expressivo’, como gerar a partir do texto, a partir de um áudio, uma animação”, fala.
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💣 Desafios e perigos
A professora identifica que o avanço rápido destas tecnologias tem alguns pontos que devem ser observados com atenção, pois são sistemas realmente capazes de enganar os seres humanos devido ao realismo que atingem.
“Hoje a gente tem sistemas onde, por exemplo, eu pego 10 segundos da sua fala e sintetizo você cantando. Eu sintetizo você falando coisas que seriam absurdas, e isso com grande facilidade”, argumenta.
Assim, ela diz que a computação afetiva pode ser aplicada nos diferentes aspectos da comunicação humana. A expressividade é um aspecto muito básico da comunicação humana e ao colocar em uma voz construída, ela pode enganar com mais facilidade.
No entanto, Dornhofer complementa que os possíveis perigos são, na realidade, extrapolações tecnológicas de situações que já acontecem. De golpes feitos por telefone imitando a voz de um familiar ao uso de manipulação de fotografias.
“Eu costumo dizer que todos os perigos que a inteligência artificial nos oferece hoje, no fundo, já existiam na nossa sociedade, mas são amplificados e ampliados”, pondera.
Outra questão discutida é se há o interesse de aplicar emoções em inteligências artificiais a ponto de tomarem decisões autônomas a partir destes sentimentos simulados.
“Não é se as inteligências artificiais deveriam ou não ter emoções, a gente está discutindo se ela sequer pode ser realmente inteligente sem a modelagem de emoções […] Então imagina uma inteligência artificial que tem que bombardear algum lugar, será que a modelagem de emoções nesse tipo de inteligência artificial pode alterar as tomadas de decisão. Será que a gente quer isso?”, finaliza.
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