Por que o preço do azeite aumentou? Quando vai baixar? Entenda

Seca na Europa derrubou produção de azeitonas e fez preço do óleo disparar no mundo e no Brasil. Produção nacional é muito pequena e, por isso, país fica dependente do produto que vem de Portugal e Espanha. ‘Ouro líquido’: aumento do preço do azeite faz supermercados colocarem proteção antifurto nas garrafas do produto
O azeite de oliva virou um artigo de luxo no Brasil, em meio a uma disparada de preços provocada por uma seca intensa na Europa, que reduziu drasticamente as colheitas de azeitonas nos últimos dois anos.
Neste ano, contudo, os olivais europeus começaram a se recuperar, mas os benefícios deste crescimento devem demorar para se traduzir em queda de preços no Brasil, avalia o professor Carlos Eduardo de Freitas Vian, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP).
🫒Por ter uma produção nacional de azeite muito pequena, o Brasil depende dos europeus para abastecer o mercado interno, principalmente de Portugal e Espanha, que respondem, respectivamente, por 44% e 14% de toda importação nacional do produto.
Por causa disso, qualquer problema de oferta na Europa afeta o Brasil.

A Espanha, por exemplo, que é a maior fabricante de azeite do mundo, viu a sua produção despencar 60% entre as safras de 2021/22 e 2022/23, de 1,5 milhão de toneladas para cerca de 600 mil toneladas.
No ciclo seguinte, em 2023/24, a produção se recuperou muito pouco, para cerca de 760 mil toneladas, segundo o Conselho Oleícola Internacional (IOC, na sigla inglês). Em Portugal, também houve queda na fabricação de azeite (veja info abaixo).

A redução da oferta fez o preço do óleo de azeitona alcançar a sua maior alta no Brasil, em junho deste ano, quando o produto disparou 50%, segundo uma série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012.
Depois daquele pico, a alta de preço começou a perder ritmo, mas não se traduziu em alívio ao bolso do consumidor. Na cidade de São Paulo, por exemplo, ainda é bem difícil encontrar uma garrafa de 500 ml por menos de R$ 40 nos supermercados.

Preço do azeite vai cair?
É possível que o preço do azeite comece a cair lentamente no Brasil a partir de 2025. A safra de azeitonas começou agora em outubro na Europa e o mercado tem projetado uma boa recuperação.
Um relatório da Comissão Europeia, por exemplo, divulgado no dia 8 de outubro, aponta que a produção de azeite na Europa deve crescer 32% este ano, em relação a 2023, para 2 milhões de toneladas.
Quem vai puxar a alta é o maior produtor do mundo, a Espanha, que deve voltar a ofertar 1,4 milhão de toneladas de azeite na safra 2024/25, segundo uma previsão da Vilcon Consultoria, divulgada na Olive Oil Times, uma publicação especializada em azeite.
Essa retomada deve acontecer devido a uma melhora do clima. Entre janeiro e fevereiro deste ano, houve um bom nível de chuvas nas regiões produtoras espanholas, por exemplo, o que ajudou as reservas de água se recuperarem, favorecendo, principalmente, os olivais não irrigados.
Com o aumento da oferta, os preços no Brasil podem cair.
“A expectativa é de que, para o próximo ano, a gente tenha uma redução de preços no mercado internacional e, consequentemente, no Brasil. Mas é algo que vai demorar um pouquinho para acontecer, porque, como nós somos importadores, qualquer eventual queda de preços lá fora demora alguns meses para chegar aqui”, diz Vian.
“Até esse produto passar por todo o processo logístico, chegar no Brasil, chegar na gôndola. Isso demora um tempo. Eu não sei dizer com exatidão, mas a minha estimativa é que os preços não vão cair antes de meados de 2025”, acrescenta o professor da USP.
Vian pondera que eventuais problemas climáticos, como uma chuva muito intensa durante a colheita, pode colocar em risco a perspectiva positiva.
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Incertezas climáticas
Já Renato Fernandes, presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), destaca que a produção europeia pode não ter a recuperação aguardada pelo mercado. E que a queda das colheitas de azeitonas, nos últimos anos, também é explicada pelo modo de cultivo local das oliveiras.
“Há uma necessidade de rever algumas formas de manejo e isso é apontado por alguns ambientalistas europeus. A produção de azeitonas na região de Jaén [na Espanha] não respeita, por exemplo, o curso d’água. Tem plantio de oliveiras até a margem do rio. A cobertura vegetal foi totalmente dizimada e a terra, desnuda”, diz Fernandes.
“Portanto, tem se perguntado se, talvez, não seja esse descuido que esteja provocando um desequilíbrio ambiental e até mesmo uma queda de produção”, acrescenta.
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Reduzir dependência
Segundo o presidente do Ibraoliva, o Brasil precisa se planejar para diminuir a dependência externa de azeite.
“Hoje, o Brasil tem 7 mil hectares plantados de oliveiras. Precisaríamos ter 1 milhão de hectares para garantir a autossuficiência”, afirma.
“No Rio Grande do Sul, nós temos a capacidade para plantar 1 milhão de hectares. Se nós tivéssemos investido há mais tempo em plantações de oliveiras e processamento de azeite, hoje nós não estaríamos tão dependentes de países que nos exportam”, conclui.
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Evite cair em golpes
Com o preço do azeite nas alturas, muita gente busca por promoções nos supermercados.
Mas tome cuidado para não cair em golpes. Uma das dicas do Ministério da Agricultura é, justamente, desconfiar de preços muito abaixo da média dos praticados pelo mercado.
Outra dica para evitar golpes é não comprar azeite vendido a granel.
Também é possível é verificar se uma marca de azeite já teve a sua venda proibida ou se já entrou na lista de produtos falsificados (veja mais detalhes aqui).

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