Primeira vocalização de serpente é registrada na América do Sul


Cobra papa-lesma foi registrada por doutorandos de Ecologia do Inpa emitindo som característico. Pesquisadores gravam vocalização de cobra papa-lesma em Presidente Figueredo (AM)
O primeiro registro de serpente vocalizando na América do Sul foi registrado por doutorandos de ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em junho de 2021, entretanto, o trabalho só foi publicado no dia 9 de outubro na Acta Amazônia, revista científica do instituto.
A espécie que emitiu o “canto” é uma cobra popularmente conhecida como papa-lesma (Dipsas catesbyi), animal nativo do continente. O herpetólogo e fundador do Projeto Suaçuboia Igor Yuri Fernandes, que realizou as pesquisas e fez a descoberta, chamou o encontro de inusitado.
“Durante caminhada numa trilha, procurando sapos e cobras para projetos de mestrado e doutorado, essa cobrinha acabou aparecendo no meio da trilha. Como fundei o Projeto Suaçuboia, com o objetivo de mudar aos poucos o estigma social que as cobras têm, quis gravar esse vídeo simplesmente para mostrar que esses animais não são apenas mortais e perigosos como as pessoas acham ”, conta Igor.
Pesquisadores brasileiros registram primeira vocalização de serpente na América do Sul.
Igor Yuri Fernandes
O que era para ser apenas uma gravação comum na mata, na verdade, se tornou uma descoberta surpreendente, já que o animal emitiu um som. Após a surpresa, os pesquisadores decidiram enviar a vocalização para outros especialistas que poderiam identificar um outro organismo ali presente e, quando as alternativas se findaram, os cientistas iniciaram a descrição do canto da cobra.
“Essa descoberta vira o campo do estudo de répteis e anfíbios de cabeça para baixo na América do Sul. Existem registros de vocalização de cobra na América do Norte e na Ásia, mas para a América do Sul que é uma região do continente americano mais biodiversa do planeta, descobrir algo assim é fenomenal”, pontua o especialista.
De acordo com Igor, a descoberta abre campos para que outros pesquisadores e entusiastas também estudem esses animais, estudem outros tipos de vocalização e para que prestem mais atenção nestes bichos. Além disso, o registro é importante para a educação ambiental em relação às serpentes.
De acordo com Igor, essa descoberta abre campos para que outros pesquisadores e entusiastas que caminham pelas matas, também estudem esses animais.
Igor Yuri Fernandes
Algumas hipóteses foram levantadas para explicar o “canto” da papa-lesma. Uma delas é a emissão do som para defesa do animal. Igor explica que as serpentes possuem um sistema auditivo rudimentar e, por isso, elas não conseguiriam escutar sua própria vocalização.
Outra hipótese levantada pelos pesquisadores seria o “canto” como ferramenta para a reprodução. Mais isso ainda se trata de uma suposição.
Para o biólogo do Terra da Gente, Luciano Lima, essa pesquisa demonstra o quão pouco conhecemos das espécies e que ainda há muitas descobertas a serem feitas.
A espécie
A papa-lesma – também conhecida como dormideira, falsa-jararaca, jararaquinha-do-brejo – mede de 40 a 50 cm e possui registros em zonas urbanas e florestas preservadas. É uma cobra inofensiva, pois não possui glândulas de veneno ou presas especializadas para dar o “bote”.
Uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores é que a emissão do som pode ser para a defesa do animal.
Igor Yuri Fernandes
Pertencente à família Colubridae, a espécie ocorre majoritariamente na Amazônia, em regiões de transição entre Amazônia-Cerrado. A papa-lesma não consta como animal ameaçado nas listas da IUCN e do ICMBio.
Dipsas catesbyi é uma cobra noturna que habita florestas antigas, florestas de semidecíduas, plantações, bananeiras e jardins rurais. São bastante ativas, embora se movam lentamente no nível do solo ou na vegetação. Alimentam-se de lesmas, caracóis e insetos de corpo mole. Durante o dia, as cobras desta espécie descansam enroladas sob folhas de bananeira ou matéria orgânica.
Se ameaçados, os indivíduos podem achatar o corpo e expandir a cabeça para simular uma forma triangular e produzir um odor desagradável. As fêmeas põem de 1 a 6 ovos por ninhada, entre os meses de abril e junho.
A papa-lesma, também conhecida como dormideira, mede cerca de 40-50 cm.
Renato Gaiga
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