Poeta vence festival no RS com poema em que anuncia intenção de doar órgãos


Compositor Rodrigo Bauer está entre os mais premiados em festivais. Ele ficou em primeiro lugar na “Tertúlia Maçônica” em poesia interpretada por Pedro Júnior da Fontoura. Rodrigo Bauer
Douglas Salgueiro
Com uma poesia que aborda o desapego às questões materiais e critica as ambições do ser humano, o poeta Rodrigo Bauer, de São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, venceu a 8º edição da Tertúlia Maçônica da Poesia Crioula, realizada em Porto Alegre no dia 21 de outubro. Com o trabalho interpretado por Pedro Júnior da Fontoura, ele tirou o primeiro lugar na categoria “não maçônica”.
Através de uma construção poética genial, Bauer afirma em “De passagem” desejar que, no além vida, seu coração não “carregue mágoas e rancores” e que seus pulmões tenham “muito de brisa” e “um pouco de tornado”. Nos versos seguintes, ele defende a doação de seus órgãos.
“Porém, eu faço questão que, após a morte e seu punhal de espanto, seja doado tudo o que é preciso para que a luz trigueira de um sorriso triunfe sobre a escuridão do pranto!”. Assim, seus olhos se “abrirão de novo” e seu “coração retomará o compasso, mesmo a serviço de outros braços”.
Ao blog, Bauer , que é multipremiado em festivais nativistas, afirmou:
“É o meu jeito de avisar a minha família e de chamar a atenção da sociedade sobre a doação de órgãos”.
Espetacular. Assista abaixo (aos 26 minutos):
Leia o poema
De passagem
“Pelo campo e a paisagem,
por tantas outras paragens
eu estarei, de passagem,
sem me apegar, pois, se, então
nada se leva da vida,
(nada, depois da partida)
essa ambição desmedida
não tem nenhuma razão!
Porém, eu faço questão
que esses meus olhos de enxergar distâncias,
ao se fecharem, mesmo em desalinho,
guardem a luz de todos os caminhos
que me trouxeram desde a tenra infância;

que o coração, guerreiro sem escudo,
ao silenciar, de vez, os seus tambores
já não carregue mágoas e rancores,
somente Amor e Gratidão por tudo;

que os meus pulmões levem, à terra fria,
algo do ar que o tempo tem soprado:
muito de brisa, um pouco de tornado
– a inspiração da própria poesia;
que os rins, enfim, a merecer descanso,
filtrando extremas gotas de vazio,
tenham o sal do mar e algo dos rios
para lembrar procelas e remansos;
e tenha o fígado, nalgum momento,
(o velho mártir de uma vida impura)
uma homenagem por sua bravura
e não lhe falte o reconhecimento!
Que a terra me seja leve!
Sabendo que a vida é breve
nem o mais touro se atreve
a desdenhar da paixão…
Deixarei tudo o que posso,
a pele, o cabelo, os ossos…
No fim, nada disso é nosso,
nem cabe um usucapião!
Porém eu faço questão
que, após a morte e seu punhal de espanto
seja doado tudo o que é preciso
para que a luz trigueira de um sorriso
triunfe sobre a escuridão do pranto!
Assim, meus olhos se abrirão de novo…
Meu coração retomará o compasso!
Mesmo a serviço de outros novos braços,
mesmo no seio de algum outro povo!
O doador deve avisar os seus…
Ele é, de fato, um ser reconhecido!
Sabe, da vida, o seu real sentido…
E é muito próximo do Próprio DEUS!
Rodrigo Bauer”
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