‘A mulher do foro diz que tem uma megaoperação sigilosa’: LEIA mensagens de investigados por vazar operações no RS


Polícia investiga esquema que envolveria servidores e estagiários que antecipariam informações a grupos criminosos que seriam alvos de operações. ‘Tu viu que a polícia tá pra bater aqui’: mandado de prisão contra traficante é vazado e policia encontra casa vazia
Uma mensagem obtida nas investigações sobre o vazamento de informações do Tribunal de Justiça do RS para criminosos sobre operações policiais exemplifica como os envolvidos comunicavam aos alvos das ações.
“A mulher do foro diz que tem uma megaoperação sigilosa”, diz o texto em uma delas, que foi interceptada pelaspolícia.
Sete servidores estão sob investigação e 14 estagiários foram afastados por suspeita de envolvimento no esquema.
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O caso veio à tona após investigação do Grupo de Investigações da RBS TV (GDI) e do próprio TJ.
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Reprodução/RBS TV
A mesma facção criminosa beneficiada pelos vazamentos tinha uma informante na 21ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça. Informalmente, uma estagiária da vara admitiu que vendia cada informação à quadrilha por R$ 200.
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O objetivo era frustrar ações policiais no Condomínio Princesa Isabel, onde funciona um ponto de venda de drogas da Avenida Bento Gonçalves, em Porto Alegre.
Durante duas tardes, o GDI flagrou o tráfico em plena luz do dia no local. Traficantes agem dentro e fora do condomínio, em um terminal de ônibus que funciona nos fundos. Além de atuarem nas redondezas, a quadrilha também seria a responsável por fornecer a droga negociada em todo o bairro Cidade Baixa e na Vila Planetário, conforme investigações do Denarc.
“Com toda a tranquilidade, podemos dizer que as ações foram frustradas ou em parte frustradas devido a essas informações que foram passadas então por agentes externos da investigação a esses marginais”, confirma o delegado Alencar Carraro, diretor de investigação do DENARC.
O GDI também teve acesso a um vídeo que mostra líderes do tráfico na região deixando um prédio na véspera de uma operação.
“Essas informações externas permitiram com que eles conseguissem retirar quase que a totalidade de certamente material ilícito de origem criminosa, que seria muito importante no decorrer das investigações”, acredita o delegado.
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15 operações frustradas em um mês
A investigação sobre o envolvimento da estagiária na venda de informações a bandidos que agem no condomínio é realizada pela Promotoria Especializada Criminal de Porto Alegre.
“É muito difícil apurar exatamente a quantidade de operações que foram frustradas em razão desses estagiários, desses servidores, mas num pequeno período de amostragem de meros 30 dias, nós conseguimos apurar 15 operações que acabaram não tendo resultado algum, justamente pelo conhecimento prévio possível dos investigados”, explica o promotor Flávio Duarte.
Em Santa Maria, o promotor investiga outro vazamento. Seria uma consulta a uma operação que buscava prender o gerente da mesma facção beneficiada em Porto Alegre e Cachoeirinha.
As ordens judiciais teriam sido consultadas antes do seu cumprimento no escritório de uma advogada do suspeito, com senha de uma servidora do Fórum de São Gabriel. Ambas foram alvo de buscas na sexta-feira (20). Sem saber do vazamento, a Polícia Civil cumpriu os mandados em maio de 2022.
Nada foi encontrado no local, segundo policiais que participação da ação.
Em um dos endereços, foi apreendido o celular de uma mulher ligada à quadrilha. Nele, uma mensagem enviada uma semana antes da operação diz: “tu viu que a polícia tá pra bater aqui”.
Os bandidos sabiam até o número de endereços que seriam vistoriados: “tão pra bater em três casas”.
Advogado acessou pedidos antes do juiz
Outro vazamento é apurado pela delegada Luciane Bertoletti, em Canoas. Ela investigava uma quadrilha responsável pelo desvio de R$ 1,2 milhão da conta bancária de um técnico em informática.
Os criminosos conseguiram convencer a vítima a realizar diversas transferências, sob a alegação de que estariam realizando testes de segurança e que essas transferências não seriam reais.
Depois de ingressar com 30 pedidos de prisão e outros 53 de busca e apreensão para desarticular o grupo, a delegada ficou surpresa ao perceber que advogados da quadrilha tiveram acesso aos pedidos antes mesmo do juiz examiná-lo.
“Eu tinha ingressado com um pedido de prisão e busca e apreensão e alguns advogados do mais diversos estados entraram com habeas corpus preventivos, antes mesmo da análise judicial daqueles pedidos feitos por mim”, explica a delegada.
Ao rastrear o acesso indevido ao processado, a polícia descobriu que o acesso aconteceu com o uso da senha de uma ex-estagiária do Fórum Central de Porto Alegre. No computador dela, a polícia descobriu nomes de alvos dos pedidos de busca e prisão, vazados à quadrilha.
Suspeita de extorsão
As investigações da Polícia Civil e Ministério Público apontam ainda que, além de vazar informações de operações sigilosas, o esquema permite a pratica de extorsões. O GDI conseguiu localizar o alvo de um mandado de busca que seria cumprido em Cachoeira do Sul, por tráfico de drogas.
Por aplicativo de mensagem, o homem recebeu prints do pedido encaminhado ao judiciário. Um criminoso se fez passar por policial e pediu R$ 4 mil para não “enxertar” drogas durante a operação.
“Mandaram a foto dos pedaços da investigação”, disse o investigado, que denunciou à polícia a tentativa de extorsão.
A consulta ao processo teria sido feita por um ex-estagiário do Fórum de Novo Hamburgo com a senha de uma servidora.
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