Governador exonera sobrinho de Telmário Mota foragido por envolvimento na morte da mãe da filha do ex-senador


Harrison Nei Correa Mota, conhecido como Ney Mentira, tinha um cargo comissionado na Secretaria dos Povos Indígenas (Sepi), onde trabalhava como motorista. Harrison Nei Correa Mota, conhecido como “Ney Mentira”, sobrinho de Telmário Mota
Reprodução/Polícia Civil
O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), exonerou o sobrinho de Telmário Mota, Harrison Nei Correa Mota, conhecido como “Ney Mentira”, de 49 anos, que está foragido suspeito de envolvimento na morte de Antônia Araújo de Sousa, de 52 anos, mãe da filha do ex-senador. Ney mentira ocupava cargo comissionado no estado.
Ele foi exonerado na última quarta-feira (1º), em decreto assinado pelo governador, três dias após a operação Caçada Real. A exoneração foi publicada no Diário Oficial do Estado.
Ney mentira tinha um cargo comissionado na Secretaria dos Povos Indígenas (Sepi), onde atuava como motorista. O salário de Ney era R$ 1.636, como consta no Portal da Transparência.
ENTENDA: Saiba quem são os envolvidos na morte da mãe da filha do ex-senador Telmário Mota
Ao g1, o governo de Roraima informou que ele foi exonerado porque as investigações indicam uma “situação que implica conduta contrária ao padrão de comportamento que o Estado exige dos seus servidores”.
O governo ressaltou que os servidores públicos são “representantes da administração pública diante da sociedade e deve preservar a imagem, o decoro e a credibilidade, inclusive além do estrito exercício das funções do cargo”.
Senador Telmário Mota é alvo de operação que apura morte de Antonia Araújo de Sousa, mãe de uma filha dele
Reprodução/Senado Federal e arquivo pessoal
Ney Mentira é apontado pela Polícia Civil como a pessoa que Telmário Mota deixou responsável para organizar a morte Antônia Araújo de Sousa, em setembro deste ano. Ela era mãe da filha do ex-senador que o acusou de estupro em 2022 – à época, ela tinha 17 anos.
Antônia foi assassinada com um tiro na cabeça quando saía de casa para trabalhar, por volta das 6h30, no bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste de Boa Vista, capital de Roraima.
Dos envolvidos identificados pela Polícia Civil até agora, Ney Mentira o único que segue foragido. O suspeito já era investigado por outros crimes: homicídio qualificado, estelionato, roubo majorado, furto qualificado, apropriação indébita, ameaça, e formação de quadrilha ou bando.
As investigações da Polícia Civil sobre a morte de Antônia apontaram que Telmário Mota deixou o sobrinho como responsável pela execução do crime durante a reunião na Fazenda Caçada Real, onde a logística para o crime foi decidida.
Ney então comprou a moto que foi usada durante o crime no Residencial Vila Jardim. O veículo estava no nome de outra pessoa, com documentação irregular. Ele pagou R$ 4 mil em espécie pela moto, segundo a polícia.
Depois, ele levou a moto para uma oficina, onde foram feitos alguns reparos. Em seguida, a moto foi entregue para a assessora Clediane. Uma dia antes do crime, ela entregou a motocicleta para os executores. A polícia segue tentando encontrar Ney Mentira.
Operação Caçada Real
Fazenda Caçada Real, de Telmário Mota, onde ex-senador teria planejado crime contra a mãe da filha
Polícia Civil/Divulgação
A juíza Lana Leitão Martins, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, acatou o pedido e ordenou a prisão de Telmário Mota, do sobrinho dele, Harrison Nei Correa Mota, conhecido como “Ney Mentira”, investigado por responsável por organizar a execução do crime, e de Leandro Luz, que atirou em Antônia. A assessora do ex-senador, Cleidiane Gomes Costa, também é investigada e deve usar tornozeleira eletrônica.
O nome da operação “Caçada Real” faz referência ao nome da fazenda de Telmário, onde, de acordo com documentos obtidos pela Rede Amazônica sobre a investigação, ocorreu a reunião que decidiu sobre a morte de Antônia.
Foi na propriedade, conforme a Polícia Civil, que Telmário deixou o sobrinho Ney Mentira como responsável pela execução do crime. A fazenda foi um dos locais alvos de busca na operação.
Na operação, Leandro Conceição, responsável por atirar na vítima foi preso. Cleidiane Gomes da Costa, assessora de Telmário também foi um dos alvos da operação. A juíza do caso ordenou que ela seja monitorada por tornozeleira eletrônica. Ela chegou a monitorar a vítima e a filha de Telmário dias antes do crime.
A operação da Polícia Civil ocorre com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) Departamento de Inteligência Secretaria de Segurança Pública, Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar e da Divisão de Inteligência Policial da Polícia Civil do Distrito Federal.
Acusação de estupro
Adolescente de 17 anos, filha de Telmário Mota, denuncia o senador por tentativa de estupro
Caíque Rodrigues/g1 RR
Em agosto de 2022, a filha de Telmário e Antônia Araújo — assassinada com um tiro na cabeça no dia 29 de setembro — afirmou que ele a assediou, tocou em suas partes íntimas e tentou arrancar a sua roupa no Dia dos Pais. Na época, ela tinha 17 anos.
Segundo a filha, ela fez contato com o senador para os dois passarem o Dia dos pais juntos. Ela disse que o pai ligou por volta das 19h dizendo que iria levá-la para um lago, para comemorarem a data.
A filha, em entrevista exclusiva ao g1, contou que o pai a forçou entrar em seu carro e a tomar bebidas alcoólicas. Também disse que o senador tomou seu celular durante os assédios para que ela não pedisse ajuda para ninguém.
“Por ele ser meu pai, por eu ter saído várias vezes com ele eu nunca imaginei [que isso aconteceria]. Desde pequena a gente mantinha contato, ele era distante, mas eu era a filha mais próxima dele. Ele nunca tinha dado sinal de um comportamento assim comigo, nunca. Nem para mim, nem para as outras filhas dele. Abalou todo o meu mundo”, disse.
Telmário negou as acusações e afirmou se tratar de perseguição politica.
O caso foi registrado na Polícia Civil como estupro de vulnerável. A juíza Graciete Sotto Mayor Ribeiro, da Vara de Crimes Contra Vulneráveis, chegou a conceder uma medida protetiva em favor da filha.
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