‘Alice no País das Maravilhas’ na Unicamp: como clássico, que pela 1ª integra vestibular, pode ser cobrado


Publicado em 1865, livro de Lewis Carrol entrou na lista de leituras obrigatórias e pode ser tema de questões na primeira fase, que será aplicada no domingo (29). ‘Alice no País das Maravilhas’: entenda como clássico pode cair na Unicamp
🐇🕰️ Basta dizer “atrasado, atrasado, atrasado” que quem cresceu assistindo aos desenhos animados da Disney vai imaginar um coelho branco vestido com um colete correndo com um relógio de bolso. Pela primeira vez, a obra de Lewis Carrol integra a lista de leitura obrigatória para o vestibular da Unicamp, cuja primeira fase será aplicada no domingo (29).
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Cena do desenho Alice no País das Maravilhas de 1951
Reprodução/Walt Disney Pictures
Essa também é a primeira vez que livros originalmente escritos em línguas estrangeiras fazem parte da lista de obras exigidas pela Comvest, comissão organizadora do vestibular. Mas, de que forma ele pode ser exigido no exame?
Para ajudar os estudantes ávidos por respostas, o g1 conversou com o professor de literatura Vinícius Teixeira, do Curso e Colégio Oficina do Estudante, que apontou características da obra que podem aparecer na prova:
Protagonismo infantil
Estilo nonsense
Fuga do maniqueísmo e de lições de moral
Ilustração presente na versão original de “Alice no País das Maravilhas”
Wikimedia Commons
Protagonismo infantil
Publicada há 158 anos, a história que se tornou um clássico ainda tem uma forte presença na cultura pop, dando origem a filmes, séries e até mesmo outros livros, e estimula diversas reflexões sobre a sociedade atual. 📖
No livro, Alice é uma esperta, curiosa e irreverente criança de 7 anos. Essa representação da infância não era algo comum na época da Inglaterra Vitoriana. “As crianças não possuíam autonomia, por isso, a história era bastante audaciosa e fundadora de um discurso”, explica Teixeira.
Ao longo dos capítulos, a protagonista passa por diversas transformações tanto físicas quanto emocionais. Ela cresce, encolhe, toma chá com novos amigos inusitados, para dizer o mínimo, pinta rosas brancas de vermelho e até desafia a monarquia do país das maravilhas.
Tudo isso antes de completar a primeira década de vida. Se a Alice vivesse hoje, ela muito provavelmente estaria matriculada nas primeiras séries do Ensino Fundamental I e seria daquelas alunas que deixam os professores de cabelo em pé, mas no bom sentido.
Também por isso, dentro do contexto que foi publicado, o livro pode ser entendido como uma crítica à sociedade da Inglaterra Vitoriana e à educação moralista concedida às crianças que eram, predominantemente, silenciadas, analisa o professor.
“É uma quebra de hierarquia, pois encontramos uma criança capaz de produzir questões e conexões diante de suas experiências no contato com o mundo”, diz Teixeira.
Cena de Alice no País das Maravilhas de 2010, dirigido por Tim Burton
Reprodução/Walt Disney Pictures
Sem sentido?
Alice no País das Maravilhas é uma das grandes representantes do gênero nonsense, que, em tradução literal, significa “sem sentido”. Isso porque a narrativa desconstrói a lógica tradicional e explora a fantasia como um exercício de liberdade, segundo o professor de literatura.
Essa é uma das características da história que tem grandes chances de ser abordada pela Unicamp. O nonsense de Alice, na verdade, é uma abundância de sentidos entre situações absurdas, delírios e sonhos.
“Podemos observar um texto com várias camadas interpretativas e possíveis relações com o mundo no qual vivemos”, diz Teixeira.
A loucura no texto, por exemplo, pode ser entendida como uma forma de crítica às lógicas da sociedade, ou, nas palavras do professor de literatura, “um jeito de viver fora de um sistema que segrega e tenta aniquilar os processos subjetivos”.
Gato Chesire, personagem de Alice no País das Maravilhas, na adaptação de 2010 dirigida por Tim Burton
Reprodução/Walt Disney Pictures
Coelho Branco, Cheshire e Absolem
Alice no País das Maravilhas subverte a ordem do mundo que conhecemos e, por isso, não é de se surpreender que os personagens também fujam do comum.
Alguns dos mais importantes são animais humanizados e carregados de simbologia consideradas subversivas para a época: o Coelho Branco, o gato de Cheshire com seu sorriso permanente e a sábia lagarta Absolem.
Coelho Branco, personagem de Alice no País das Maravilhas, na adaptação de 1951 do livro
Reprodução/Walt Disney Pictures
É importante notar que os animais que aparecem em Alice não são como os que aparecem nas fábulas, que já faziam uso dessa técnica dentro da literatura infantil para passar ensinamentos morais.
“A história é atravessada pela perspectiva filosófica e não por uma ideia de bem e mal como ocorre em muitos textos maniqueístas”, aponta o professor Teixeira.
E isso explica por que a trama continua relevante: o texto estimula a pensar o que é viver eticamente no mundo e como é possível fazer isso de diversas maneiras. Ao invés de transmitir uma lição de moral, Alice convida os leitores a serem autônomos.
Cena da adaptação de 1951 de Alice no País das Maravilhas
Reprodução/Walt Disney Pictures
Por que Alice no vestibular?
Se tem uma coisa que se aprende ao ler Alice no País das Maravilhas é fazer perguntas. Tentar entender o motivo para o livro ter sido o primeiro de língua estrangeira escolhido pela Unicamp é o primeiro passo para compreender o que a Comvest espera de seus candidatos.
Logo quando as obras dos próximos anos foram anunciadas, o g1 entrevistou o diretor da comissão organizadora, José Alves de Freitas Neto, para repercutir as escolhas da Comvest.
Na época, o diretor disse que recorrer a obras internacionais era uma forma de privilegiar o diálogo que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe sobre o acesso dos estudantes às produções literárias, tanto em escala local e regional, quanto global.
Ao falar especificamente sobre Alice no País das Maravilhas, Freitas Neto destacou que apesar da obra ser apresentada como literatura juvenil, tem referências e diálogos sobre simulacros, dúvidas, reflexões sobre o “espelho” e temáticas que provocam questionamentos aos estudantes.
“No momento de tantas manipulações, de tantos discursos ou narrativas falseadas, entender o universo de Alice e esse caráter curioso, de pergunta e essa indagações estimulam para que os estudantes possam fazer as correlações possíveis entre o universo de Alice, o país das maravilhas e perceber a quantidade de enganos que têm nessas narrativas”, frisou o direto, à época.
Já Teixeira, professor do Oficina do Estudante, destaca que abrir espaço para uma obra tão conhecida na cultura pop na lista de obras exigidas permite conexões para a formação de leitores de literatura. Experimentar e ler, de fato, o livro deve ser a principal preocupação do vestibulando.
“Aproveitem os trechos fornecidos pelos exercícios e fiquem atentos aos enunciados, pois contribuirão para uma resposta satisfatória”, orienta Teixeira.
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