Juiz mantém preso motorista de Camaro que matou fisiculturista e amiga em acidente em Boa Vista


Juiz também mudou classificação do crime e Fernando Takao Marisihiqui Filho, de 23 anos, vai responder por homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar. Ele havia bebido e estava em alta velocidade quando atingiu carro das vítimas. Fernando Takao Marisihiqui Filho, de 23 anos, dirigia Camaro que matou as amigas Ariane Real e Layse Sampaio
Reprodução/Instagram
A Justiça manteve a prisão de Fernando Takao Marisihiqui Filho, de 23 anos, investigado por matar a fisiculturista Ariane Real da Silva, de 31 anos, e a amiga dela, Layse Sampaio da Conceição, de 28 anos, em um acidente na avenida Ville Roy, em Boa Vista. A prisão preventiva dele foi decretada em audiência de custódia neste domingo (29).
Na decisão, o juiz plantonista Renato Albuquerque também alterou a tipificação penal e Fernando Takao passa a responder por homicídio com dolo eventual – quando se assume o risco de matar. Antes, na delegacia, ele havia sido autuado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A mudança ocorreu à pedido do Ministério Público.
Ao sugerir a mudança, o MP argumentou que Fernando Takao estava “embriagado e em alta velocidade”. À Polícia Militar, logo após o acidente, ele admitiu ter bebido e que estava a 100 km/h quando atingiu o carro das vítimas – na delegacia, disse que estava a “no máximo 120 Km/h”.
“No caso em tela, em análise aos elementos colhidos e apresentados no auto de prisão em flagrante, foi possível confirmar que o acusado conduzia o veículo com capacidade psicomotora alterada em razão do consumo de álcool, eis que afirmou ter ingerido bebida do tipo vodka momentos antes do acidente, tendo ainda pontuado que trafegava, em veículo conhecido pela notável potência, a cerca de 120 km/h, velocidade excessivamente alta e fora do permitido nas vias urbanas”, pontuou o juiz, acrescentando que:
“É plenamente possível a conversão da prisão preventiva, como requer o Parquet [Ministério Público], visto que afasta a tipificação da modalidade culposa, haja vista que o Autor [Takao] assumiu o risco ao conduzir o veículo sob o efeito de álcool e, ainda em alta velocidade”, citou o juiz em trecho da decisão.
Procurado, a defesa de Takao disse que está “analisando a decisão judicial para manuseio dos recursos devidos”. Afirmou ainda que o juiz “tem o livre convencimento e deve fundamentar suas decisões a luz do artigo 93, IX CF88. A defesa cabe fomentar a amplitude dos meios frente a essas decisões em face de que a liberdade é o segundo maior bem jurídico do ser humano”.
Câmera registou momento em que Camaro atinge Celta em que estavam as amigas Ariane Real e Layse Sampaio, ambas morreram
Reprodução
O acidente foi nesse sábado (28), por volta das 5h02. As amigas de infância Ariane Real e Layse Sampaio estavam em um Celta atingido pelo Camaro que Fernando Takao dirigia em alta velocidade na avenida Ville Roy, bairro Canarinho, zona Leste de Boa Vista.
Ariane Real morreu na hora. Layse Sampaio ficou em estado grave, foi levada ao Hospital Geral de Roraima, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na unidade. O carro das vítimas foi atingido pela porta do passageiro, onde estava a fisiculturista. O acidente ocorreu em segundos e foi registrado por câmeras de monitoramento da cidade.
Layse Sampaio, de 28 anos, e Ariane Real, de 31 anos (esquerda para a direita).
Arquivo pessoal
‘Irresponsabilidade do condutor’
Ao decretar a prisão preventiva do motorista, o juiz destacou em trecho da decisão o que ele chamou de “irresponsabilidade do condutor” ao dirigir o carro “em alta velocidade em local conhecido pelo tráfego constante de outros veículos”.
“Ressalto ainda, a gravidade da conduta, a repercussão concreta na Ordem Pública ao ser ceifada a vida de duas pessoas diante da irresponsabilidade do condutor que dirige seu automóvel em alta velocidade em local conhecido pelo tráfego constante de outros veículos. Neste caso não se considera somente o direito individual do condutor infrator, mas sim, preferencialmente o bem jurídico mais valioso que é a vida, este não restituível.”
Além disso, a decisão de manter o infrator preso, na avaliação do juiz, ocorre para “evitar que esta espécie de fato não se repita aumentando o temor pessoas que se aprisionam em seus próprios lares e locais de trabalho por não se sentirem seguros no exercício do elementar direito de ir e vir.”
A defesa de Takao ainda tentou reverter a prisão e garantir a liberdade com aplicação de medidas cautelares ao jovem, o que foi negado pelo juiz.
Ao pedir a liberdade de Takao, a defesa argumentou que ele não tinha antecedentes criminais, que é estudante universitário de engenharia e faz estágio na área, e que é responsável por cuidar dos avós, de 64 e 69 anos, e do irmão mais novo, de 14.
No entanto, o juiz destacou que ser “descabida a concessão da liberdade provisória como forma de manter a paz social e rechaçar as reiterações criminais da mesma natureza, ou seja, ingerir bebida alcoólica e conduzir veículo automotor, em alta velocidade.”
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O acidente
Camaro estava a 100km/h quando bateu no carro das vítimas, na zona Leste de Boa Vista.
Arquivo pessoal
O acidente ocorreu na madrugada desse sábado (28) no cruzamento da rua Presidente Juscelino Kubitscheck com a Avenida Ville Roy, no bairro Canarinho, zona Leste.
As vítimas Ariane e Layse estavam na rua Presidente Juscelino Kubitscheck quando entraram na avenida Ville Roy e foram atingidas antes de atravessar a a via. Elas ficaram presas às ferragens. Ariane era mãe e deixou um bebê de 1 ano.
Uma testemunha relatou à PM que, após a colisão, o condutor do Camaro saiu do veículo com uma garrafa de bebida alcoólica e jogou nas proximidades do local. Imagens que circulam nas redes sociais mostram ele deitado no chão, enquanto chora e repete que “não viu elas”. Junto com Takao estava um jovem, de 27 anos.
Os dois sofreram ferimentos leves e foram conduzidos para o Pronto Socorro Estadual Dr. Francisco Elesbão, anexo ao Hospital Geral de Roraima (HGR). Depois, Takao foi preso e levado à Central de Flagrantes da Polícia Civil.
Quando foi ouvido pelos policiais militares, na unidade de saúde, Takao estava chorando, “apresentava odor etílico, olhos vermelhos, não se lembrava dos fatos e, em vários momentos, não era possível compreender o que dizia”.
Esse foi o segundo acidente grave em Boa Vista em menos de dois dias. Na quinta-feira (26), mãe e filho morreram em um acidente entre a moto em que estavam e uma caminhonete, conduzida por uma mulher de 32 anos, no bairro São Vicente, zona Sul de Boa Vista. A Polícia Civil não informou que procedimento adotou em relação à mulher.
Fisiculturista Ariane Real era mãe de um bebê de 1 ano
Reprodução/Instagram
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