Tempo seco na região de Ribeirão Preto: umidade relativa do ar pode atingir índice de 0%?


Nesta semana, a média em Barretos (SP) chegou a 7%. g1 conversou com especialistas para explicar como a falta de umidade impacta no clima e na saúde. Barretos (SP) está encoberta por fumaça e umidade relativa do ar está em 7%
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A umidade relativa do ar em Barretos (SP) atingiu um dos níveis mais críticos da história da cidade nesta semana ao marcar 7% na terça-feira (3).
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O índice baixíssimo chamou a atenção pelos riscos que pode representar à saúde, uma vez que contribui para uma desidratação mais acelerada e, em alguns casos, o corpo pode entrar em colapso. (veja mais abaixo)
O município da região de Ribeirão Preto (SP) ficou entre os mais secos do país na quarta-feira (4) e, como não há previsão de chuva para os próximos dias, a preocupação de uma queda ainda maior na umidade relativa do ar colocou a população em alerta máximo.
Queimadas contribuem para deixar o tempo ainda mais seco na região de Ribeirão Preto, SP
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Para se ter uma ideia, o índice em Barretos foi maior em 2% do que frequentemente registrado no Atacama, que fica ao norte do Chile e é considerado o deserto mais seco do mundo.
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Mas, apesar de haver registros de cidades pelo mundo com umidade relativa do ar ainda mais baixa — Las Vegas, nos Estados Unidos, já atingiu índice de 1%, por exemplo –, é naturalmente impossível que estes níveis cheguem a 0%, como explica Maria Clara Sassaki, especialista em Meteorologia da Tempo OK.
“Teria de tirar todas as moléculas de água (H2O) do ar. O vapor de água está sempre presente no ar, mesmo que seja uma parcela muito pequena. Tem umidade em todos os lugares. É impossível zerar a umidade do ar”.
Umidade relativa do ar é preocupante quando atinge níveis abaixo de 40%, segundo OMS
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Na região de Ribeirão Preto, a média da umidade relativa do ar no ano fica em torno de 55%, de acordo com a climatologia do Inmet.
No inverno, o índice cai para 40%, nível considerado ‘suportável’ pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — o ideal fica entre 50% e 60%.
Não é clima de deserto
Assim como o Atacama, que registra 5% de umidade relativa do ar, o Saara, no norte de África, tem índices que variam entre 14% e 20%.
Nesta semana, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ao menos 244 cidades registraram níveis iguais ou mais baixos que estes dois locais, mas dizer que elas tiveram ‘clima de deserto’ é errado, segundo Maria Clara.
Isso porque nos desertos, a umidade é constante enquanto que nas cidades brasileiras, é registrada por um curto período. Na manhã desta quarta-feira, por exemplo, Barretos registrou índice de 8%. À tarde, a umidade relativa do ar estava em 13%.
“Podemos dizer que, em alguns momentos do dia e por apenas algumas horas, a umidade relativa do ar se assemelha aos índices encontrados nos desertos. A diferença é que esse valor de umidade acontece por um período curto, enquanto que no deserto, a maior parte do tempo temos valores de umidade muito baixos, entre 14% e 20%”, diz Maria Clara.
Umidade relativa do ar e o vapor de água na atmosfera
A especialista em meteorologia também explica que a umidade relativa se refere à porcentagem de vapor de água que a atmosfera pode suportar com determinada temperatura.
É como se a atmosfera fosse uma esponja: quando ela está totalmente seca, pode absorver muita água, mas se ela estiver molhada, vai absorver bem pouco.
“No caso da atmosfera, a umidade relativa do ar nos diz quanto a ‘esponja’ está cheia de água. Se a umidade relativa do ar é de 50%, significa que a atmosfera já tem 50% de umidade e ainda pode absorver mais 50%”.
Valor de umidade relativa do ar é mais baixo em áreas que não têm fonte de umidade
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Ainda segundo ela, quanto mais calor, maior a capacidade que a atmosfera tem de absorver água.
É como se a esponja ficasse maior. E se em dias quentes cabe mais água na atmosfera, para completar 100% precisa de uma grande quantidade de água disponível.
“Se estamos em um ambiente que tem essa fonte de água, como uma floresta ou áreas próximas ao mar, a umidade que chega na atmosfera consegue preencher o ‘espaço vazio’ da esponja. Então, a temperatura pode subir bastante que vai ter umidade suficiente no ar. Agora, se estamos em um ambiente sob influência de uma massa de ar seco e sem fonte de umidade, a temperatura vai subir e não vai ter água suficiente para preencher o ‘espaço vazio’. Por isso, o valor de umidade relativa do ar é mais baixo nestas áreas que não têm fonte de umidade”.
Índices baixos comprometem a saúde
Como a OMS considera entre 50% e 60% o índice ideal de umidade relativa do ar, qualquer nível abaixo disso é preocupante para a saúde.
Nos 40%, as autoridades já consideram situação de alerta. Mas quando baixa dos 10%, a situação se torna de emergência.
Pneumologista da Unimed Ribeirão Preto, Giselle Consonni diz que o principal resultado da falta de umidade é uma desidratação por várias vias.
“A gente perde muita água pela respiração. Só o fato de respirar, você já está desidratando e aí ocorre ressecamento de todas as mucosas. Do olho, causando irritação, do nariz, causando irritação, formação de feridas, às vezes até sangramento nasal, a boca fica seca, a pele fica seca e a pressão tende a cair”.
Problemas respiratórios aumentam com queda na temperatura e tempo seco
Segundo a médica, principalmente idosos poder apresentar quadros de tontura e até mesmo queda, mas a baixa umidade do ar atinge todas as pessoas.
“A sensação de mal-estar é geral para qualquer pessoa, uma sensação de fadiga e de irritabilidade, porque são os sinais desidratação”.
A sede, alerta a médica, já é um sinal claro de desidratação e o corpo pode entrar em colapso por conta disso.
“Pode ter colapso por desidratação. Por exemplo, um idoso que já tem certa insuficiência cardíaca, que tem qualquer patologia associada, se ele se desidrata, a pressão cai e vai ter risco de morte, sim. A baixa a umidade também pode se acompanhada de um hiperaquecimento do corpo. E aí é colapso mesmo. Todo o funcionamento do organismo fica prejudicado”.
Sede é sinal claro de desidratação do corpo
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Além da água, que deve ser ingerida ainda mais frequentemente em dias mais quentes, é preciso fazer uso contínuo de colírio, soro fisiológico, hidratante para corpo e lábios.
A secura do ar ainda propicia o surgimento de vírus, bactérias e partículas irritantes da mucosa respiratória, o que acaba aumentando a incidência de infecções virais e bacterianas.
Ambiente precisa ser fechado
A médica explica também que com a umidade do ar baixa, o ambiente que a pessoa se encontra, seja em casa ou no trabalho, precisa ser fechado.
“Uma conduta que é muito comum é a pessoa deixar aberto para ventilar. É a pior coisa, porque a umidade dentro de casa é, de certa forma, preservada. Agora se você abre as janelas e deixa ventar, você vai ‘desidratar’ o ar do do ambiente domiciliar. Práticas de esporte, caminhadas, correr fora de casa em ambiente externo é proibido, porque no exercício você hiperventila, respira mais rápido e a perda [de água] pela respiração aumenta muito”.
Aparelhos umidificadores podem colaborar com a melhora do ambiente, mas não se deve elevar a umidade acima de 70%, ainda segundo Giselle.
“A preservação da umidade da casa é essencial. Como você vai preservar a umidade do ar do ambiente fechado? Primeiro, mantendo fechado. Segundo, o uso de umidificadores, que deve ser colocado em um local mais alto para que emita essa ‘névoa’ e umidifique o ar onde as pessoas estão respirando. Não se deve elevar essa umidade acima de 70%. Quando começou a ‘suar’ a janela, passou de 70%, então você deve calibrar o umidificador de forma que não vá provocar a transpiração na parede ou na janela. Se você não fizer essa preservação, vai se sentir mal na rua e dentro de casa também”.
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