Unicamp 2024: professores apontam 10 questões mais difíceis e avaliam 1ª fase como ‘clássica’


Primeira fase do vestibular aconteceu no domingo (29) para 60 mil candidatos. Gabarito oficial foi divulgado pela Comvest nesta segunda (30). Candidatos durante aplicação da prova Unicamp 2024
Leandro Ferreira/g1
Uma “prova clássica”, mas nem por isso fácil. Assim definiram professores ouvidos pelo g1 sobre a 1ª fase do Vestibular 2024 da Unicamp, que reuniu 60 mil candidatos no domingo (29). Veja, abaixo, as 10 questões mais difíceis segundo os entrevistados.
“No geral, uma prova muito bem feita e com temas bem distribuídos”, avalia Wander Azanha, diretor do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante.
Com mais questões de filosofia e sociologia, a prova da Unicamp misturou temas clássicos, como racismo, reflexo da colonização na população indígena e música brasileira sob o regime militar, com atualidades como inteligência artificial, teste em animais e uso de anabolizantes.
As questões mais atuais, principalmente, como a imagem do Papa Francisco vestindo um casaco e o uso do termo ‘nevou’ , geraram memes nas redes sociais. Houve, também, os clássicos memes sobre a dificuldade da prova.
Mas quais eram, de fato, as questões mais difíceis da primeira fase do Vestibular Unicamp? 🤔
Para responder esta pergunta, o g1 conversou com os professores do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante para selecionar as dez questões consideradas mais difíceis do exame.
O número das questões está conforme a versão Q e Y da prova, cujo gabarito oficial foi divulgado nesta segunda (30), e basta clicar para ver a resolução comentada.
As 10 questões mais difíceis
Gramática e interpretação de texto -5
Literatura – 9
História – 16
Química – 25
Geografia – 32
Física – 35
Biologia – 47
Humanidades – 52
Matemática – 58
Inglês – 70
Os candidatos tiveram cinco horas para resolver o exame e nomes como Martin Luther King e Sueli Carneiro, Papa Francisco e o filme “Guardiões da Galáxia 3”, além do aplicativo Chat GPT estiveram entre os mais citados pelos vestibulandos que deixavam os locais de prova ouvidos pelo g1.
A prova tem 72 questões de múltipla escolha divididas entre linguagens e matemática, ciências humanas e ciências da natureza. Confira, abaixo, as considerações dos professores sobre o conteúdo cobrado pelo Vestibular Unicamp 2024.
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Prova da Unicamp 2024
Leandro Ferreira/g1
Português
O professor de literatura André Barbosa afirma que a prova da Unicamp cobrou uma leitura muito detalhada dos fragmentos literários que caíram. “Nós percebemos que as questões não conversam umas com as outras, elas são bem estanques, bem paradas”, explica.
Na prova de literatura, caíram questões sobre o “Seminário dos Ratos”, de Lygia Fagundes Telles, “Olhos d’Àgua”, de Conceição Evaristo, “Casa Velha”, de Machado de Assis, a “Carta de Caminha, Tarde”, de Olavo Bilac, relacionada à crítica de Mário de Andrade, e “Ateneu”, de Raul Pompéia.
“Sintetizando de um modo geral, são questões que cobram uma leitura detalhada da obra e também uma relação com o contexto social, histórico e até mesmo o estado de espírito das personagens”, diz Barbosa.
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Já nas questões de gramática e interpretação de texto, a professora Liliane Negrão considera que não houve grandes novidades.
“A Unicamp, como sempre, cobra que o aluno entenda um determinado sentido de uma palavra no texto específico, questões envolvendo textos com linguagem verbal, ou seja, totalmente formado por palavras, mas também imagem. Então, o aluno teria que associar texto verbal e texto não-verbal”, explica.
A professora também destacou que a Unicamp segue tratando de temas atuais como a moda dos jovens de platinar o cabelo e a festa literária em uma escola de samba no Rio de Janeiro.
“Com relação ao formato da prova, ao tipo de cobrança, não houve grandes novidades”, afirma Liliane.
História
Para o professor Marcus Vinícius de Morais, o nível de dificuldade da prova de história ficou entre fácil para médio, e trouxe inovação na hora de abordar temas clássicos.
“Negros, indígenas e mulheres apareceram evidente como protagonistas. O mundo plural e múltiplo, característica da prova, também ficou evidente nos variados tipos de fontes, como sermões, fotos e textos”, diz.
Morais também ressaltou como ponto positivo a abordagem de temas como a imagem do Papa Francisco com um casaco gerada por Inteligência Artificial e fake news.
Química
As questões de química foram consideradas dentro do esperado para a prova da Unicamp, que cobrou interpretação de diversos gráficos, pilhas, química ambiental e saúde.
“Caíram conceitos esperados: PH, química ambiental, química verde. Eu gostei da prova, achei bem feita e reparei que quase não teve conta, foram cobradas mais questões interpretativas”, diz o professor Pietro Escobar.
Unicamp 2024: candidatos durante a prova
Leandro Ferreira/g1
Geografia
A prova de geografia da primeira fase teve um nível de dificuldade médio, com incidência de temas clássicos mas com grau de exigência um pouco elevado.
“Nós vimos muitas alternativas bastante específicas que requerem muito cuidado para serem diferenciadas e a recorrência de alguns assuntos que têm aparecido todo ano, mas com uma abordagem um tanto quanto complexa”, explica o professor Daniel Simões.
Ele considera que houve um bom equilíbrio entre a parte física e a parte humana da geografia, com a ausência de alguns temas “consagrados” como clima e agricultura.
No campo da geografia física, caíram questões sobre populações tradicionais e domínios morfoclimáticos. Já na parte humana, a prova também cobrou problemas urbanos como moradia, crescimento demográfico com leitura de mapas e gráficos, placas tectônicas e terremotos, globalização e cartografia.
“São temas bastante triviais, uma prova da Unicamp, mas eles foram cobrados com um certo rigor e, diferente de outras provas, as alternativas foram bastante complicadas, de modo que o aluno tinha que fazer uma leitura muito cuidadosa para não confundi-las e conseguir eliminar para chegar à alternativa correta”, explica Simões.
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Física
A prova abordou temas como cinemática, dinâmica, teorema da energia cinética, eletricidade, ondulatória e gases perfeitos. O nível de dificuldade foi considerado fácil. “A prova foi bem feita, com questões diretas que distribuiu bem os assuntos de física”, diz o professor Rodrigo Araújo.
O professor também destacou que, assim como na prova de química, a Unicamp não cobrou a tradicional conversão de unidades. Entretanto, vários cálculos foram exigidos.
“Talvez a maior dificuldade dos alunos tenha sido na parte das contas, porque eles cobraram muitas contas com notação científica, e as contas, então, eram um obstáculo para eles, uma dificuldade um pouco maior. Mas fora isso, foi uma prova bem feita e dentro do esperado”, diz Araújo.
Primeira fase da Unicamp 2024
Leandro Ferreira/g1
Biologia
Para o professor Marcelo Perrenoud, a prova de biologia foi de nível médio, com questões mais diretas, textos curtos e conteudistas. “Bem abrangente com imagens, gráficos e esquemas relacionados com células eucarísticas”, diz.
Ele também aponta que a distribuição de temas foi bem feita. “Porém, não apareceu pergunta de genética, que era uma temática esperada pelos alunos”, pontua.
Filosofia e sociologia
Na prova de sociologia caíram temas relacionados à desigualdades sociais, raciais, de gênero, movimentos sociais e uma questão “clássica” abordando Durkheim e o conceito de fato social.
“A prova privilegiou a leitura e a interpretação de textos e trouxe questões atuais e tranquilas para os candidatos”, diz a professora Sarah Franciscangelis.
Já em filosofia, houve uma questão que abordava uma crítica às visões de supremacia racial. “A questão trouxe uma reflexão sobre igualdade e liberdade num contexto das vivências políticas e uma questão abordando duas tradições da filosofia antiga, Aristóteles e Epicuro”, explica Sarah.
Matemática
Para o professor Rodrigo do Carmo, a prova deste ano foi mais “acessível” ao aluno comparada à edição anterior do vestibular, com assuntos mais concentrados em conteúdos abordados no 1º e 2º ano do Ensino Médio.
“Vale destacar a presença de uma questão sobre Lei dos cossenos, assunto que era cobrado com frequência e que, nos últimos anos, não estava presente na primeira fase”, diz do Carmo.
Além destas, ele também destacou duas questões relacionadas à condição de existência de triângulo e outra de polinômios com sequências numéricas. O restante da prova teve questões de assuntos tradicionais como áreas, geometria plana, combinatória e probabilidade, sistemas lineares, funções.
Candidatos nos corredores para fazer prova do vestibular da Unicamp
Leandro Ferreira/g1
Inglês
A Unicamp manteve a tradição na prova de inglês e cobrou uma diversidade de gêneros textuais, como racismo — fazendo um paralelo ao tempo de Martin Luther King e os dias atuais —, a representação da cultura indígena e um texto científico.
Além disso, a prova também teve uma questão que abordava o ChatGPT, duas resenhas sobre filmes e outra sobre metalinguagem. “Bem balanceada. A Unicamp manteve a tradição”, afirma o professor Márcio Pantoja.
Temas abordados
Inteligência artificial (Chat GPT)
Fake news (foto do Papa Francisco criada por meio de aplicativo e notícia falsa em jornal do século 18)
Racismo (com citações a Sueli Carneiro, Martin Luther King e desigualdade entre população branca e negra)
Indígenas na colonização do Brasil e na sociedade atual
Discussão sobre testes em animais pelo filme “Guardiões da Galáxia 3”
Consequências do uso de anabolizantes e impactos em órgãos humanos
Interpretação do tom de incerteza em música da novela “Pantanal”
Música popular brasileira sob o regime da ditadura militar
Terremoto na Turquia
A felicidade conforme a produção filosófica de Aristóteles e Epicuro
Aumento de pessoas em situação de rua nas grandes cidades nos últimos anos
Projeção de crescimento populacional nos EUA e na Nigéria
Evolução humana
Conteúdo da prova (questões)
12 de língua portuguesa e literatura
12 de matemática
7 questões de história
7 questões de geografia
3 questões de filosofia
3 questões de sociologia
7 questões de física
7 questões de química
7 questões de biologia
7 questões de inglês
Obras literárias
A lista de obras literárias obrigatórias no vestibular 2024 é a seguinte:
“A Tarde” – Olavo Bilac
“Olhos d’Água” – Conceição Evaristo
“Carta de Achamento a el-rei D. Manuel” – Pero Vaz de Caminha
“Casa Velha” – Machado de Assis
“O Ateneu” – Raul Pompeia
“Niketche – uma História de Poligamia” – Paulina Chiziane
Conto “Seminário dos Ratos” – Lygia Fagundes Telles
Canções escolhidas – Cartola
“Alice no País das Maravilhas” – Lewis Carrol
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