Trabalhadores relatam receber comunicado da GM sobre cancelamento das demissões: ‘Não tenho confiança’


Comunicado da montadora foi recebido por alguns trabalhadores nesta segunda-feira (6). Ao g1, trabalhadores citaram preocupação, mesmo após o aviso. GM em São José dos Campos
Reprodução/TV Vanguarda
Centenas de funcionários da General Motors (GM) em São José dos Campos, no interior de São Paulo, receberam um comunicado da montadora, através de e-mail ou mensagem, sobre o restabelecimento do contrato, que havia sido rompido em outubro.
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De acordo com o comunicado da montadora, o funcionário deve receber novas orientações sobre a reintegração nos próximos dias. A mensagem diz que o contrato foi restabelecido a partir do dia 23 de outubro (veja abaixo):
Comunicado sobre cancelamento das demissões que trabalhadores alegam ter recebido da GM.
Reprodução
“Comunicamos que o seu contrato de trabalho foi restabelecido a partir de 23 de outubro de 2023 sem qualquer prejuízo associado à dispensa ocorrida naquela data. Nos próximos dias, a empresa enviará novas orientações. Por favor, aguarde”.
Um dos trabalhadores que recebeu esse comunicado foi Eduardo Mendes Marcondes, que atua no setor de melhorias contínuas na GM em São José dos Campos. Ele disse que, mesmo após o comunicado, só ficará aliviado quando retomar as atividades na empresa.
“Recebemos essa mensagem do supervisor, mas, para mim, eu ainda estou demitido, porque não tenho mais confiança na empresa. Quando eu voltar a trabalhar, aí sim será um alívio”, declarou.
Em entrevista ao g1, ele relatou como foram os dias de tensão antes das decisões favoráveis da Justiça aos trabalhadores e o recuo da montadora na decisão do dia 21 de outubro, em demitir mais de 1,2 mil funcionários, sendo 839 da planta de São José dos Campos.
“Foi um baque, mas não tinha chegado nada para mim ainda. Tocou a campainha e minha esposa saiu para atender: eram os Correios com um telegrama da GM para mim. Ela olhou e perguntou o que era aquilo e eu, como estava sabendo dos telegramas, falei que a GM tinha me demitido. Para mim, foi muito difícil aceitar. Em pleno sábado, eu com as minhas filhas, a GM mandou um telegrama dizendo que não servia mais para empresa”, contou.
GM em São José dos Campos
Camilla Motta/ g1
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Casado e pai de duas meninas, Eduardo relembrou um pouco da trajetória na GM e disse que continua com a incerteza sobre o futuro do seu trabalho na montadora. Segundo ele, até hoje é difícil dormir tranquilo.
“Eu trabalhava aos sábados, finais de ano, feriados. Tudo o que eles me pediam, eu sempre fazia. É difícil você trabalhar um dia e, no final de semana com sua família, saber que está demitido. Minha esposa ficou em choque, minha filha. Até hoje não estou dormindo direito, pois ataca o psicológico”, desabafou.
Outro trabalhador incluído na lista de corte da primeira decisão da GM, em outubro, foi Gabriel Luiz. Mesmo após o comunicado — que o funcionário afirma ainda não ter recebido –, ele diz que ainda há a incerteza da situação na empresa.
“Estamos com um pé atrás, né? Não sabemos o que vai acontecer, ficamos preocupados. Todo mundo fica preocupado porque as contas não param e vêm batendo forte”, disse.
“Temos ticket, mas até agora não caiu e ficamos sem saber o que fazer. No momento ainda não procurei outro emprego e estou esperando as negociações para poder voltar a trabalhar”, finalizou.
Funcionários demitidos protestam com uniformes pendurados no entorno da fábrica da GM em São José
Rauston Naves/TV Vanguarda
Cancelamento das demissões
A General Motors cancelou as 1,2 mil demissões anunciadas em três fábricas do Brasil depois de uma determinação da Justiça do Trabalho.
O corte em massa nas fábricas de São José dos Campos, São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes – todas no estado de São Paulo, havia sido anunciado no dia 21 de outubro e, desde então, a categoria está em greve nas três fábricas.
No sábado (4), a montadora entrou em contato com os sindicatos da categoria para comunicar que irá acatar as decisões da Justiça do Trabalho para reintegrar os demitidos.
Ao g1, a montadora emitiu uma nota em que afirma que os Tribunais Regionais do Trabalho decidiram pelas reintegrações dos empregados demitidos e que o “cumprimento vem sendo implementado pela empresa desde o recebimento das ordens judiciais”.
Os funcionários foram comunicados da decisão por meio de telegramas
Arquivo Pessoal
Demissões
A General Motors (GM) anunciou no dia 21 de outubro as demissões de trabalhadores em três fábricas da montadora no Brasil: São José dos Campos, São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes, todas elas em São Paulo.
Os funcionários desligados da empresa foram surpreendidos com a demissão via e-mail e telegrama. O número de trabalhadores afetados pela medida não havia informado pela montadora inicialmente, mas, no dia 30, a empresa comunicou o número de 839 funcionários desligados em massa em São José.
Na data dos cortes, a montadora afirmou que as demissões foram motivadas por “queda nas vendas e nas exportações”. Disse ainda entender “o impacto que esta decisão pode provocar na vida das pessoas, mas que a adequação é necessária.”
A medida pegou trabalhadores e os sindicatos de surpresa. Segundo os Sindicatos dos Metalúrgicos de São José dos Campos e de São Caetano, não houve negociação sobre os cortes.
Em Mogi, a montadora chegou a oferecer um Plano de Demissão Voluntária há dois meses, mas a proposta não foi aprovada pela categoria.
Na data, o sindicato exigiu cancelamento das demissões e reintegração dos trabalhadores, e afirmou que tem acordo por estabilidade que foi “descumprido nessa ação arbitrária da empresa”.
Em entrevista ao g1, trabalhadores que foram demitidos em São José dos Campos relataram o choque ao saber do desligamento por carta, disseram se sentirem humilhados e estarem sem chão.
Funcionários da GM de São José fazem protesto contra demissões.
Rauston Naves/TV Vanguarda
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