Agricultores se preocupam com redução de mais de 60% na produção de uva em Marialva


Agrônomo cita que uma das explicações pode ser o uso de tipo específico de agrotóxicos. Cidade é considerada a capital da uva fina do Paraná. Produção de uva é afetada por agrotóxicos em Marialva
Nos dois hectares e meio de parreiras, em Marialva, no norte do estado, o agricultor José Wanderley Ferreira Leite produz quatro variedades de uva. Já são 30 anos dedicados ao cultivo. Contudo, de 2020 pra cá, a produção semestral despencou.
“Três anos atrás a cada seis meses era a média de 80, até 90 mil quilos a gente colhia e hoje é em torno de 20, 25 mil quilos no máximo”, conta o agricultor. Isso significa uma queda superior a 70% na produção.
De acordo com Werner Genta, engenheiro agrônomo, a origem pode estar no uso de agrotóxicos classificados como “mimetizadores de auxinas” que, usados com outro herbicida, servem para acabar com a buva, um arbusto que atrapalha principalmente os pés de soja.
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“Esse hormônio entra pelas folhas e é levado para os pontos de crescimento, que é a ponta do ramo e os cachos. O cacho é dreno, é o local que vai receber nutrientes para ocorrer o seu desenvolvimento. Na ponta do ramo ele começa a atrofiando e chega a matar a ponta do ramo e o cacho. Seca a ponta do cacho e vai ocasionando o abortamento das flores. O resultado é um cacho inferior em tamanho e com bagas pequenas e malformadas”, explicou Genta.
O agrônomo diz que, com o passar dos anos, a planta ficou resistente a outros defensivos e a saída encontrada foi o uso dos mimetizadores.
Conhecida como a Capital da Uva Fina do Paraná, Marialva , de acordo com o governo estadual, foi responsável por 10,5% de toda a produção estadual da fruta em 2021.
Em 2017, a cidade conquistou o selo de Indicação Geográfica (IG), que atrela características específicas a produtos cultivados em determinadas regiões.
Na propriedade do Agricultor Ronaldo Takayuki Komegae, também em Marialva, a queda na produção chega a 60%.
Na tentativa de contornar o problema ele trouxe do Rio Grande do Sul outra variedade: a BRS pérola, que fica junto à parreira de uva Itália.
Os pés foram plantados em outubro deste ano, mas não desenvolveram como o esperado. A ideia era cortar as ramas para fazer enxerto para o ano que vem, porém o produtor não sabe se vai dar certo.
“Terei que eliminar a parte que foi afetada para ver se cresce”, explica.
Das variedades que ele cultiva, a Magna tem se mostrado a mais resistente até agora, mas o problema também apareceu. Ele já retirou a ponta do ramo que não se desenvolveu.
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Lei do uso do agrotóxico
Uvas
Reprodução/TV TEM
Em Marialva existe uma lei que restringe a aplicação desses agrotóxicos. A legislação, que está valendo desde novembro de 2022, determina que o uso dos defensivos só pode ocorrer a uma distância de pelo menos dois quilômetros de uma plantação de uva.
A punição prevê multa para quem aplica, para o agrônomo que emite a receita e até para quem vende esses produtos.
O que diz a Prefeitura de Marialva
Nós pedimos entrevista com um representante da Prefeitura de Marialva para saber como anda a fiscalização. O município preferiu se pronunciar por meio de nota.
De acordo com a assessoria de imprensa, a Prefeitura recebeu cinco denúncias do mês passado até agora e disponibilizou técnicos para fiscalizar.
Por enquanto, ainda conforme a administração municipal, não há nada conclusivo em relação à comprovação da autoria e, por isso, ninguém foi multado.
O que fazer para minimizar impacto na produção
O gerente de sanidade vegetal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, Renato Resende, disse que a distância de dois quilômetros prevista na lei não é suficiente para proteger as plantações de uva.
A solução, na avaliação dele, é mudar a espessura do bico do pulverizador.
“O agricultor que fará aplicação do herbicida não pode ver aquela fumaça, aquela névoa, que vai se arrastando atrás do trator. Ela tem grande chance de sofrer evaporação e ela pode sofrer por quilômetros de distância. A gente não tem uma certeza de qual a distância que essa molécula pode viajar. Então, tem que utilizar a gota grossa ou extremamente grossa”.
De acordo com ele, só neste ano, 150 propriedades foram fiscalizadas na região de Marialva. Os donos tiveram que trocar os bicos dos pulverizadores.
Mas ainda tem muita propriedade para ser fiscalizada.
A esperança de quem produz uva é de que esse trabalho continue para que os parreirais voltem aos bons tempos.
“Aqui na minha propriedade são dez pessoas que dependem da uva e a gente está nesse barco aí, está difícil”, comenta Ronaldo.
“A gente faz dívida, faz investimento alto. De que jeito que eu vou pagar esse investimento? Não tem como, é impossível. Então, vamos esperar mais um pouco, mas eu já estou pensando em parar”, finaliza José.
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