Frota de Campinas cresce 14% em 10 anos, se aproxima de 1 milhão e especialista diz: ‘Para se lamentar’


Considerando a taxa de crescimento do último ano, metrópole deve atingir marca milionária em 2025. Carros, motos e utilitários estão entre os maiores aumentos. Foto de arquivo de trânsito carregado na Avenida John Boyd Dunlop, em Campinas
Reprodução/EPTV
A frota de veículos em Campinas (SP) cresceu 14,8% nos últimos dez anos e se aproxima de 1 milhão, o que representa um paridade de quase um habitante por veículo.
Na avaliação do professor Creso de Franco Peixoto, da Unicamp, um número que expressa o esgotamento do sistema viário e que requer maiores investimentos em transporte público e outros modais de transporte – veja mais abaixo.
“Não é uma marca para ser comemorada, é para se lamentar. Quando você tem a paridade habitante com veículo, não é uma opinião, é um fato, o sistema viário ele se esgota. Ele não consegue levar as pessoas, não tem uma solução sem gerar uma ruptura”, alerta.
Levantamento do g1 a partir de dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) mostra que a metrópole tem 962.791 carros, caminhões, motos, ônibus e utilitários, entre outros, o que faz dela a 9ª do Brasil nesse quesito.
Em setembro de 2014, a frota de Campinas era de 838.412, o que indica que houve o acréscimo de 124.379 veículos emplacados na cidade.
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Quase 1 habitante por veículo
Se mantiver a taxa de crescimento da frota registrada nos últimos doze meses, que foi de 2%, Campinas deve superar a barreira de 1 milhão de veículos em 2025.
Como efeito de comparação, o último Censo do IBGE apontou que a metrópole tem 1.138.309 habitantes.
O volume atual de veículos emplacados coloca a cidade do interior de São Paulo a frente de capitais e cidades mais populosas, como Porto Alegre (RS), Manaus (SP), Guarulhos (SP) e Recife (PE), entre outras. Confira:
Maiores frotas do Brasil
O professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FECFAU) da Unicamp destaca que no Brasil, no início da década de 1960 a proporção entre habitantes por veículo era de 233/1, sendo que após incentivos do governo de Juscelino Kubitschek, o país chegou a marca de 60/1 em 1965.
Números que foram caindo ano a ano, sendo que em 2020, em plena pandemia, a marca chegou a 2 habitantes por veículo, sendo o estado de São Paulo o primeiro a baixar desse índice, chegando a 1,9 por habitante.
“É um crescimento do sofrimento, do desconforto, que resultas viagens mais longas, atrasos maiores”, destaca Creso.
📊 Veja, abaixo, os maiores crescimentos absolutos e percentuais no período
Segundo o Senatran, a maior parcela da frota de Campinas é de automóveis, que representam 629,8 mil veículos. Em dez anos, o crescimento foi de 9,7% (55,8 mil) – em setembro de 2014 a metrópole tinha 574 mil carros nas ruas.
Já a segunda maior fatia de veículos é das motocicletas, com 134,1 mil – aumento de 26% no período, o que representa mais 27,7 mil emplacadas na cidade.
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Reprodução/EPTV
Analisando percentualmente, o grande salto da metrópole no período entre 2014 e 2023 está no segmento de utilitários, que cresceu 146,6% – pulou de 5.740 para 14.155 unidades.
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E tiveram segmento que perdeu veículos em dez anos, apesar da pequena variação. Sãos casos dos caminhões (de 20.994 para 20.565, redução de 2%), e dos ônibus (de 5.387 para 5.368, variação negativa de 0,3%).
Números da frota de Campinas em 10 anos
Os dados do Senatran também contabilizam outros tipos de veículo, mas cujo percentual da frota são pequenos, como trator, ciclomotor, triciclo e side-car, entre outros.
Como curiosidade, duas categorias aparecem com o registro de uma unidade cada emplacada na cidade: bonde e quadriciclo.
Bonde no Parque do Taquaral, em Campinas
Reprodução / EPTV
Transporte público, bicicleta, pedágio…
Creso de Franco Peixoto explica a importância do investimento em sistemas mais eficientes de transporte, já que o volume de veículos pode “travar o sistema viário”.
O professor da Unicamp lembra que em linhas gerais, uma via que só passa carros tem, em média, o tráfego de 2 mil pessoas por hora. Quando você tira os carros e coloca os ônibus comuns, essa taxa aumenta para 8 mil por hora.
Na avaliação de Creso, o único transporte que pode ser considerado de massa é o metrô, que poderia levar até 100 mil pessoas por hora, mas seu custo inviabiliza a implantação em muitos lugares.
Para o especialista, no caso de Campinas, o importante é que a prefeitura entregue e coloque em pleno funcionamento o que foi investido, como os corredores do BRT, além de pensar na integração entre modais, como incentivo ao uso da bicicleta e até medidas polêmicas, com o pedágio urbano, já implantado no Chile.
“Falta integração. Seria importante pegar a bicicleta e permitir que a pessoa a leve no ônibus. Um sistema de suporte na frente do veículo, ou bolsões, pagos mesmo, para estacionamento. Trata-se de uma mudança cultural também. O pedágio urbano pode ser discutido, mas não é só implantar, é repensar os custos”, opina.
Empresa responsável pelo trânsito em Campinas, a Emdec informou que não tem qualquer discussão sobre implantação de pedágio urbano, mas ressaltou que tem atuado para ampliar o uso do transporte coletivo e que tem se esforçado para executar a nova licitação do transporte público.
A empresa ainda destacou que ampliou a rota cicloviária, ultrapassando a marca de 100 km neste ano.
Veja o posicionamento na íntegra:
“Entre as políticas públicas de mobilidade adotadas pelo município estão o estímulo a adoção de meios de transporte coletivos e sustentáveis. A Emdec e a Setransp vêm atuando em projetos que envolvem a priorização do transporte público coletivo, a ampliação da malha cicloviária e o estímulo à mobilidade ativa. A operação dos Corredores BRT, iniciada em novembro de 2022 e ampliada no último dia 20 de outubro, é uma das medidas para estimular a adesão ao transporte coletivo. No Corredor Campo Grande, são quatro linhas BRT (BRT20, BRT21, BRT25 e BRT26) operando e o Corredor Ouro Verde conta com a linha BRT10. As linhas BRT proporcionam um deslocamento mais rápido, mais previsível e com mais conforto aos usuários, com estações mais modernas.
Em agosto, com a entrega de rota cicloviária de 3,51 km, ligando os distritos de Sousas e Joaquim Egídio, Campinas ultrapassou os 100 km (101,38 km) de rotas exclusivas para bicicletas. Projetos que promovem a mobilidade ativa também estão sendo realizados, tais como o “Revivacidade”, que levou medidas e priorização da circulação de pedestres ao entorno da rua Delphino Cintra, no Botafogo.
Todos os esforços para que o novo sistema de transporte fosse licitado foram realizados, incluindo diversas oportunidades de participação da sociedade civil. Atendendo a uma solicitação do Setcamp (Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano e Urbano de Passageiros da Região de Campinas), a consulta pública que colhe mais sugestões para possíveis ajustes no edital segue até o dia 30 de outubro. Somente após analisar o teor das sugestões será possível estimar expectativas em relação aos próximos passos.”
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