Passageira que teve braço decepado em janela de ônibus viraliza mostrando rotina 4 anos após acidente: ‘Dar valor à vida’


Vídeo publicado por Ana Beatriz Oliveira soma quase 4 milhões de visualizações. Jovem perdeu membro após coletivo em que estava bater em poste no dia 5 de novembro de 2019. Passageira que teve braço decepado em janela de ônibus viraliza 4 anos após acidente
Aos 18 anos, Ana Beatriz Oliveira, de Campinas (SP), viu a vida virar de ponta cabeça: no dia 5 de novembro de 2019, a jovem teve o braço decepado na janela do ônibus que pegava diariamente a caminho do trabalho. Agora, quatro anos após o acidente, a vendedora escolheu compartilhar a própria história no TikTok, rede social em que já soma quase 4 milhões de visualizações.
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Com um processo contra a empresa responsável pelo coletivo ainda em andamento e à espera de uma prótese que pode custar mais de R$ 100 mil, Ana Beatriz relembrou ao g1 a jornada rumo à reabilitação, destacou a importância do apoio que recebeu de familiares e amigos e garantiu que, quatro anos depois do trauma, se tornou uma pessoa mais madura e feliz.
“Eu tinha uma mente muito fechada, me importava mais comigo e era uma pessoa um pouco mais egoísta. Abriu muito minha cabeça. Hoje em dia consigo lidar melhor com as coisas, aprendi muito, inclusive a dar mais valor à vida”, diz a jovem.
À esquerda, Ana Beatriz, hoje com 23 anos; à direita, janela de ônibus onde acidente aconteceu
Ana Beatriz Oliveira/Arquivo pessoal
O acidente
O caso ocorreu no cruzamento entre a Avenida das Amoreiras e a Rua Paulo Lacerda, por volta das 7h. A jovem relata que estava com o cotovelo direito apoiado no vidro da janela – e não com o braço para fora, como informado, à época, pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) -, quando a parte traseira do ônibus colidiu contra um poste, arrancando o braço de Ana Beatriz na hora.
“[O impacto] quebrou todo o vidro. Lembro que vi meu braço caindo e tive aqueles cinco segundos de adrenalina. Não senti nada, só estourou e eu vi caindo. Fiquei desesperada pensando que ia morrer, porque eu estava vendo tudo apagando, como se fosse desmaiar, porque estava perdendo muito sangue. Mas não desmaiei em nenhum momento”, lembra.
Ana Beatriz lembra de receber primeiros socorros de outros passageiros até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Após ser socorrida pela ambulância, ela foi levada ao Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, onde os médicos tentaram reimplantar o membro, mas não conseguiram.
“Só queria ver minha mãe. Fiquei preocupada com ela porque eu já tenho um irmão deficiente físico, e na época minha mãe já cuidava dele. Eu pensava ‘nossa, se estiver sem um braço, vou dar um segundo trabalho para minha mãe’, porque ajudava ela a carregar meu irmão, levar ele na fisioterapia, fazer as coisas”, relata.
Ana Beatriz, pouco depois da alta médica, ainda com os curativos
Ana Beatriz Oliveira/Arquivo pessoal
Críticas e recuperação
Ao todo, foram cerca de 17 dias internada e duas cirurgias. Durante o período em que esteve no hospital, Ana Beatriz demorou alguns dias para ter acesso ao celular e às redes sociais, já que a família queria manter a jovem longe das críticas que recebia de pessoas que a culpavam por, supostamente, estar com o braço para fora do coletivo.
“Depois eu fui relevando e isso foi o de menos, mas, como viralizou e teve muitos comentários, minha mãe e o pessoal não queriam que eu ficasse lendo as mensagens. Tem pessoas que te desejam o bem, e tem pessoas que te desejam o mal e ficam colocando você como culpada, mas ninguém sabe, só quem passou”, desabafa.
Após receber alta, a jovem precisou ser afastada do trabalho e deu início à fisioterapia, interrompida pela chegada da pandemia em 2020. Hoje, Ana Beatriz voltou ao mercado de trabalho e atua como vendedora, mas segue na fila à espera de uma prótese por meio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
“Querendo ou não, uma prótese é bem cara. Fui ver e a que preciso é de R$ 100 mil para cima, isso as mais simples. As biônicas, que têm movimento, são bem mais caras, acima de R$ 180 mil”, conta.
Além disso, ela decidiu processar a VB Transportes, responsável pelo ônibus no qual estava. À época do caso, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros da Região Metropolitana de Campinas (SetCamp) também abriu uma sindicância interna para apurar as responsabilidades do acidente.
O g1 pediu um posicionamento sobre o caso tanto à VB Transportes quanto ao SetCamp, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. Já a Emdec destacou, em nota, que as informações prestadas à época foram preliminares, anteriores à etapa de investigação, “uma vez que a atuação da empresa é focada na operacionalização do trânsito”.
A Emdec também destacou que cabe à Polícia Civil a investigação sobre as causas e responsabilidades. Também pontuou que os motoristas do transporte público recebem treinamentos periódicos sobre direção segura e preventiva, coordenados pelas empresas operadoras, com conteúdos subsidiados pela empresa.
Além disso, defende que possui um programa de formação dos motoristas para reduzir o número de óbitos e acidentes de ônibus.
“Por meio dos treinamentos e campanhas de segurança viária realizados, a Emdec busca conscientizar os motoristas sobre a responsabilidade de conduzir vidas e a importância de dirigir com cautela e respeitando as leis de trânsito”, completou, em nota.
Ana Beatriz ao lado do irmão, que é uma pessoa com deficiência
Ana Beatriz Oliveira/Arquivo pessoal
Futuro e expectativas
Atualmente, Ana Beatriz diz ter se adaptado muito bem à função que desempenha em uma loja de departamentos, e comemora o fato de ainda poder ajudar a mãe a cuidar do irmão no dia a dia. Para o futuro, o sonho dela é entrar em um curso de recursos humanos.
Outro objetivo da jovem é intensificar as postagens nas redes sociais, mostrando as adaptações que faz na rotina – um sonho antigo que foi reacendido após a repercussão das postagens recentes em que divide a história do acidente. O sucesso, inclusive, foi uma grata surpresa.
“Na hora em que eu postei – isso eram 2h30 da manhã – já estavam chegando um monte de notificações e tinha dado 2 mil [visualizações]. Quando foi de manhã, já estava em 200 mil. Até agora eu não paro de apitar aqui!”, brinca.
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