Corpo de Dona Ivone Lara é velado na quadra da escola de samba Império Serrano, no Rio


Sambista morreu por conta de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória.  Despedida lotou quadra da Império Serrano em Madureira na tarde desta terça-feira (17).  Dona Ivone Lara morre aos 97 anos
O corpo de Dona Ivone Lara foi velado na quadra da escola de samba Império Serrano, no final da manhã desta terça-feira (17), em Madureira, Zona Norte do Rio. A sambista morreu na noite desta segunda-feira (16) por conta de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória.
Ela estava internada desde sexta-feira (13), data em que completou 96 anos, no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI) da Coordenação de Emergência Regional (CER), no Leblon, na Zona Sul da cidade.
Quadra da Império Serrano lotada para a despedida de Dona Ivone Lara
Marcos Serra Lima/G1
Parentes, amigos e fãs foram até Madureira para se despedir da ‘Dama do Samba’. O caixão recebeu a bandeira da Império Serrano e do América, clube de coração da sambista. Fãs levaram capas de discos antigos da cantora.
Fãs levam discos antigos para a despedida da cantora
Marcos Serra Lima/G1
Por volta das 14h45, amigos iniciaram uma roda de samba para homenagear a sambista com seus principais clássicos.
Amigos e fãs homenageiam Dona Ivone Lara na quadra da Império Serrano
O corpo de Dona Ivone Lara deixou a quadra da escola por volta das 16h sob aplausos e ao som de seus maiores sucessos: Sonho Meu e Acreditar. Na rua em frente à quadra, público se despediu cantando.
Corpo deixa quadra da Império Serrano ao som de sucessos de Dona Ivone Lara
Amigos sambistas se despedem da cantora fazendo uma batucada
Marcos Serra Lima/G1
Repercussão: amigos e netos
A cantora Alcione falou do legado da sambista e chamou Dona Ivone de “matriarca do samba”. Os netos da sambista também celebraram a carreira da avó mesmo em um dia de tristeza.
Alcione fala sobre o legado da ‘Dama do Samba’
“Ao mesmo tempo que é um dia de muita tristeza, temos que celebrar essa carreira maravilhosa. Minha avó foi um ser de luz. Ela era muito humilde, às vezes não tinha noção dessa representatividade dela para a música e para o país. É muito orgulho para mim (ser neto)”, diz André Lara.
Segundo ele, as composições inéditas da avó devem ser recuperadas.
“Ela sempre compôs e teve muitos parceiros. São coisas que não foram gravadas, músicas que foram resgatadas e finalizamos. Se Deus quiser, vamos tirá-las do baú”.
Corpo de Dona Ivone Lara é velado na quadra do Império Serrano
Gabriel Barreira / G1
Bandeiras do América e do Império Serrano no caixão da sambista
Marcos Serra Lima/G1
O sambista e amigo Marquinhos de Oswaldo Cruz, que comandou homenagem para Dona Ivone Lara no sábado (14), afirma que Dona Ivone fez história não só no samba.
“Ela conseguiu ser a maior compositora da história do país, não só do samba. Do país, e sem perder a essência do morro. Ninguém queria entrar no palco depois dela no final dos anos 90. Ela levantava o povo”, afirmou Marquinhos.
Alfredo Lara, filho de Dona Ivone, diz que ela precisou vencer barreiras até mesmo em casa. “Ela ia no samba mas não frequentava, meu pai ficava com ciúme. Quando viu que era a carreira que ela queria seguir, e que todo mundo elogiava, ele aceitou”.
Alcione no velório de Dona Ivone Lara
Patrícia Teixeira/G1
“Dona Ivone só tem coisa boa, ela nasceu para fazer sucesso. Uma grande amiga minha, parecia que era da família. Gravei ‘Tiê’, mas gosto de muitas outras: ‘Sorriso Negro’, ‘Acreditar’. Ela tinha muita criatividade, dizem que muitas canções inéditas, tenho curiosidade de ver e com certeza vamos ver”, comentou Alcione.
O enterro de Dona Ivone Lara está marcado para as 16h30 no cemitério de Inhaúma, também na Zona Norte do Rio.
A cantora e compositora Dona Ivone Lara se apresenta no evento Tim Festival, no auditório do ibirapuera, em São Paulo, em outubro de 2005
Valéria Gonçalvez/Estadão Conteúdo/Arquivo
Doença e trajetória
Dona Ivone Lara já vinha apresentando um quadro de anemia e precisou receber doações de sangue. O estado de saúde dela já era considerado bastante grave. No hospital, a família comentou a morte da sambista.
“Ela estava sempre procurando um caderninho pra escrever uma música, estava sempre cantarolando pro neto. Até a última semana ela estava superbem, com a cabeça ótima. Ela estava muito fraquinha, mas a cabeça estava ótima”, contou a nora Eliana Lara Martins da Costa.
Segundo o colunista Mauro Ferreira, Dona Ivone Lara morreu aos 96 anos e não aos 97 anos, como informam quase todas as fontes, pois nasceu em 1922, não em 1921. A data de 1921 foi forjada pela mãe da artista em 1932 para que ela pudesse ser admitida em colégio interno, cuja idade mínima para o ingresso era 11 anos.
O ano de 1921 passou a constar até nos documentos de Ivone, mas ela nasceu de fato em 13 de abril de 1922. Essa questão já foi esclarecida na biografia de Ivone.
Conhecida como a “Grande Dama do Samba”, ela nasceu em família de amantes da música popular e enfrentou o preconceito por ser mulher e sambista. Seu maior sucesso é “Sonho meu”, música que estourou nas paradas de sucesso com Maria Bethânia e Gal Costa.
A cantora e compositora Dona Ivone Lara durante o Viradão Carioca, no centro do Rio de Janeiro, em abril de 2010
Wilton Júnior/Estadão Conteúdo/Arquivo
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