Pianista toca músicas do Brasil em CD com sons de outros países da América do Sul


Ao gravar em 1959 Chiclete com banana (Gordurinha e Almira Castilho, 1958), música lançada em disco no ano anterior na voz da cantora Odete Amaral (1917 – 1984), o cantor e ritmista paraibano Jackson do Pandeiro (1919 – 1982) decretou que somente iria pôr bebop no samba quando o Tio Sam pegasse o tamborim.
Decorridos 60 anos, todos os muros estéticos já foram derrubados no universo pop em nome da miscigenação musical. Tanto que o pianista, compositor e arranjador cearense Ricardo Bacelar – integrante do grupo carioca Hanoi Hanoi nas décadas de 1980 e 1990 – reapresenta outro grande sucesso de Jackson do Pandeiro, o coco Sebastiana (Rosil Cavalcanti, 1953), com o toque de um ritmo venezuelano denominado sangueo e evocado na gravação pela percussão tocada por Anderson Quintero, músico da Venezuela.
Feita com inserção de registro da voz do próprio Jackson, essa gravação de Sebastiana intitula e sintetiza o terceiro álbum de Bacelar. Lançado em CD e em LP, além da edição digital, o álbum Sebastiana ganha distribuição planetária, chegando ao mercado do Brasil via Tratore.
A intenção de Bacelar no disco gravado em julho de 2017 em Miami (Flórida, EUA), com produção de Cesar Lemos, foi tocar músicas do Brasil com sons de (outros) países da América do Sul e com a influência do jazz.
Se Vento de maio (1979), parceria de Márcio Borges com Telo Borges (e não com Lô Borges, como creditado erroneamente no luxuoso libreto da edição em CD do álbum Sebastiana), é soprado com o toque de um charango boliviano, o baião A volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) retorna na pisada do vallenato, ritmo da Colômbia. Já a canção Depois dos temporais (Ivan Lins e Vitor Martins, 1983) reaparece no disco com o toque de um bandoneón, instrumento associado ao tango argentino.
Com capa que expõe a pintura Carnaval (1969 / 1970), óleo sobre tela do modernista artista plástico brasileiro Emiliano Di Cavalcanti, o álbum Sebastiana extrapola as fronteiras da América do Sul ao longo das 15 faixas, sendo 11 instrumentais e quatro cantadas. Músicos norte-americanos e cubanos também tocam no disco, cujo repertório inclui quatro temas de autoria do próprio Ricardo Bacelar (Parts of me, River of emotions, The best years – ouvido em registro feito com a inserção da voz de Jackson do Pandeiro – e Suco verde, este composto em parceria com Cesar Lemos).
Pena que o capricho da arte gráfica da edição em CD do álbum Sebastiana não tenha se reproduzido nos créditos das músicas. Além da troca do nome de Telo Borges por Lô Borges no crédito da canção Vento de maio, Toda menina baiana (1979), música de Gilberto Gil, é creditada somente como Menina baiana, sem o toda do título oficial.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.