Vice-chanceler alemão ameaça os antissemitas até com deportação

Diante do aumento de atos registrados contra judeus no país após a guerra de Israel em Gaza, Robert Habeck anunciou medidas rigorosas contra os que praticarem crimes de ódio. Num discurso contundente, Robert Habeck, o vice-chanceler e ministro da Economia da Alemanha, não deixou dúvidas de que o governo fará frente com rigor ao número crescente de atos de antissemitismo no país: os alemães terão que responder por eles na Justiça.
“Se você não é alemão, arrisca a perder seu status de residente. Se não tiver autorização de residência será um motivo para ser deportado”, atestou o ministro num vídeo que viralizou, com mais de 10 milhões de visualizações desde quarta-feira.
De acordo com o Departamento de Pesquisa e Informação sobre Antissemitismo, a guerra entre Israel e Hamas desencadeou na Alemanha um aumento de 240% no número de episódios contra judeus, entre 7 e 15 de outubro, em relação ao mesmo período do ano passado. Habeck, que pertence ao Partido Verde, ressaltou que quem queima a bandeira de Israel, por exemplo, comete um crime e terá de enfrentar as consequências.
A intolerância religiosa não tem lugar na Alemanha, assegurou. Ele referiu-se também à enorme comunidade muçulmana que reside no país, garantindo a sua proteção contra a violência extremista de direita. “Por isso, os muçulmanos devem distanciar-se claramente do antissemitismo para não minar a sua própria reivindicação de tolerância.”
Imagens de satélite mostram antes e depois do bombardeio em Jabalia, na Faixa de Gaza
Paralelamente, a ministra do Interior, Nancy Faeser, anunciou a proibição do grupo Samidoun na Alemanha, incluindo as suas atividades na internet. A organização diz defender prisioneiros palestinos, mas o governo alemão contesta este objetivo e afirma tratar-se de uma fachada para espalhar propaganda antissemita. Integrantes do grupo distribuíram doces nas ruas de Berlim para comemorar o massacre que matou 1.400 judeus em Israel. O Hamas é banido como organização terrorista pelo país.
Habeck justificou a decisão de gravar seu vídeo de dez minutos após conversas que manteve com integrantes da comunidade judaica de Frankfurt, no fim de semana. Pais relataram o medo de filhos de frequentar escolas e clubes desportivos e de usar a Estrela de David em público. “Isso ocorre hoje, aqui na Alemanha, quase 80 anos depois do Holocausto.”
Como ponderou o ministro, de 54 anos, a relação especial do país com Israel vem de sua responsabilidade histórica. “Foi a geração dos meus avós que quis destruir a vida judaica na Alemanha e na Europa. A fundação de Israel, após o Holocausto, foi uma promessa de proteção aos judeus e a Alemanha é obrigada a garantir que esta promessa possa ser cumprida. Esta é uma base histórica desta república.”
O antissemitismo está presente em todo o espectro político alemão, considerou o vice-chanceler, apontando especificamente alguns grupos muçulmanos, extremistas de direita e ativistas de esquerda. “O anticolonialismo não deve levar ao antissemitismo”, vaticinou. “Este setor da esquerda política deveria rever os seus argumentos e ser mais cética em relação à narrativa da grande resistência.”
A polícia alemã reforçou a segurança nas instituições judaicas desde que começou a guerra de Israel na Faixa de Gaza. Ainda assim, registrou um ataque a uma sinagoga no bairro de Mitte, em Berlim, pichações de prédios e casas onde moram judeus e ataques a estabelecimentos comerciais.
Os crimes de ódio levaram a revista semanal “Stern” a exibir uma reportagem de capa sobre o medo que a comunidade judaica enfrenta. “Nunca mais é agora”, diz a manchete, que virou hashtag entre os judeus da diáspora.
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