Diretora de documentário que conta a história de ‘Picasso chinês’ diz que Mogi das Cruzes foi ‘segunda casa’ do artista


Artista chinês Chang Dai-chien deixou sua marca em Mogi, na Grande São Paulo, onde viveu cerca de 20 anos. Longa-metragem faz parte da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Chang Dai-chien, o ‘Picasso chinês’ morou em Mogi das Cruzes por duas décadas
O Brasil foi escolhido como o local para receber as primeiras exibições do documentário “Da Cor e da Tinta: Em busca de Chang Dai-chien”. O longa-metragem conta a história do artista Chang Dai-chien, considerado o principal pintor chinês do século XX e que viveu por duas décadas em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo.
As sessões de estreia do filme integram a programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que segue até o dia 1º de novembro. Mogi das Cruzes, a capital paulista e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também recebem exibições da produção durante o mês de outubro.
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De acordo com a diretora do filme, a chinesa Weimin Zhang, professora de Cinema na San Francisco State University, a produção levou cerca de 12 anos para ser finalizada, com gravações no Brasil, China, Argentina, Estados Unidos e Taiwan.
Theatro Vasques exibe documentário em homenagem a Chang Dai-Chien
A partir de um material audiovisual encontrado no acervo da San Francisco State University, Zhang começou a aprofundar suas pesquisas sobre a vida e obra do artista.
Chang Dai Chien em sua propriedade em Taiaçupeba
Arquivo pessoal/Nobolo Mori
“Eu fiquei curiosa para saber o que aconteceu com ele depois de 1949 e o que aconteceu com ele antes de 1967. Não há registros, ninguém da China, dos Estados Unidos e nem de Taiwan sabem realmente o que aconteceu. Muitas pessoas estão tentando descobrir informações sobre a vida dele na América do Sul. Eu tive muita sorte. Fui abordada pelo Guilherme [Gorgulho], acredito que por volta de 2014. Então, eu estava muito determinada”, diz.
“Naquele momento, eu queria estar aqui. Sei que a resposta deve estar aqui, em Mogi das Cruzes”, explicou Zhang.
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O jornalista mogiano Guilherme Gorgulho foi um dos responsáveis por auxiliar Zhang na produção do filme, a partir de sua pesquisa de mais de 20 anos sobre a vida do artista no Brasil.
Para ele, o objetivo do documentário é resgatar a memória e a importância de Chang Dai-chien para a história do mundo das artes e de Mogi das Cruzes.
“Sequer temos um um logradouro ou uma escola com o nome dele aqui no estado de São Paulo, em Mogi, no Brasil, nada nos lembra da passagem dele. Então, eu fico muito feliz da gente poder chegar neste ponto como uma fase inicial”.
“Eu acho desse reconhecimento que nós esperamos reconstituir essa história e que as pessoas possam reconhecer e se sentir tocados pela história e pela artística, pelo amor que ele tinha por Mogi. Porque isso não é uma coisa retórica que nós estamos ressaltando. Ele realmente dizia que era a segunda pátria dele e ele teria ficado no Brasil, teria ficado no Jardim das Oito Virtudes até o fim da a vida dele, porque ele investiu muito, se dedicou muito a construir esse jardim”, contou.
O documentário mostra a jornada de Chang Dai-chien antes e depois de deixar a China, em 1949. No Ocidente, o artista viveu um curto período na Argentina, passou pelo Brasil, participou de aclamadas exposições em Paris e na Alemanha na década de 1960. Nos últimos anos de vida, Dai-chien foi para a Califórnia, até chegar em Taiwan, local onde passou seus últimos dias de vida.
“Eu me sinto realizada, até emocionada. Me sinto assim pelos últimos 12 anos de jornada fazendo este filme. Eu realmente me apeguei a este lugar. Vim aqui com mais frequência do que para a China, minha terra natal”, conta Zhang.
“Sinto que esse trabalho foi algo preparado por Chang Dai-chien. Estou aqui para representá-lo, para compartilhar sua gratidão e apreço a este lugar e às pessoas do lugar onde ele morou por 20 anos”.
Legado de Chang Dai-chien
A passagem por Mogi das Cruzes foi marcante para Chang Dai-Chien. Ele e sua família chegaram na cidade em 1954, quando passaram a viver no distrito de Taiaçupeba. No local, ele adquiriu um terreno onde construiu a casa em que vivia com a família e uma obra a céu aberto, o Jardim das Oito Virtudes.
O artista deixou Mogi apenas em 1973, quando foi forçado a deixar a área onde ele se estabeleceu após o Governo de São Paulo adquirir o local para a construção da represa de Jundiaí, que atualmente integra o Sistema Produtor Alto Tietê.
A estudante Louise Oliveira Santos Pinto, que acompanhou a exibição do filme na última segunda-feira (23), no Theatro Vasques, contou que não conhecia a história do artista chinês e sua relação com Mogi. Porém, ela acredita que, além de apresentar o pintor, o documentário transmite aprendizados.
“Acho que a principal coisa que eu pude perceber é o amor pela natureza e pelas pessoas, sabe? A arte dele foi inspirada nas vivências dele, e tem uma parte dele em cada lugar do mundo. Isso é emocionante. Eu acho que é uma pessoa que, se tivesse hoje em dia aqui, ele teria muito pra ensinar pra gente. Ele parecia ser um cara muito sábio. Acho que ele é um cara que serve de inspiração pra muita gente e, com certeza, e ele deveria ser muito mais conhecido”, contou a estudante.
Daniela Anjos, diretora de cultura da Secretaria de Cultura de Mogi das Cruzes, destaca que o longa-metragem tem o papel de conservar a memória de Chang Dai-chien para a população mogiana.
“É sempre muito emocionante receber uma obra como essa, principalmente de um artista de tanta expressão mundial, que teve um pedaço da vida dele importante aqui em Mogi, em especial em Taiaçupeba. Eu sou de família de Taiaçupeba, então tenho alguns parentes que inclusive trabalharam na chácara do professor Chang. Então, eles têm memória sobre o professor Chang e eles sempre me disseram que ele era uma pessoa muito generosa. Então, ver uma obra como essa, um documentário como esse trazendo, salvaguardando a memória dele e, não só a memória, mas também a questão de colocar Mogi também nesse cenário, é muito importante”.
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