Assessora monitorou mãe da filha do ex-senador e passou informações a ele antes de assassinato, diz delegado


Suspeito de mandar matar a mãe da filha, ex-senador Telmário Mota está foragido. A assessora é Cleidiane Gomes da Costa, considerada pessoa de confiança do ex-parlamentar. Ex-senador Telmário Mota e a assesora Cleidiane Gomes da Costa, investigada por monitorar a vítima Antônia Sousa antes do assassinato
Reprodução/Facebook
A assessora do ex-senador Telmário Mota, suspeito de mandar matar Antônia Araújo de Sousa, de 52 anos, mãe de uma filha dele, monitorava e passava informações sobre a rotina da vítima a ele, segundo o delegado que conduz as investigações na Polícia Civil, João Evangelista. A assessora é investigada por ajudar no assassinato.
O ex-senador teve a prisão temporária decretada e está foragido. Antônia foi assassinada com um tiro na cabeça no dia 29 de setembro deste ano, em Boa Vista. Ela é mãe de uma filha de Telmário que ano passado o acusou de estupro.
Para a Polícia Civil, os conflitos judiciais entre a vítima e Telmário, além da ação de estupro, em que Antônia iria depor à Justiça, podem ter motivado o crime. A assessora é Cleidiane Gomes da Costa, considerada pessoa de confiança de Telmário, com quem trabalhava havia ao menos 20 anos, segundo a polícia.
“Ela [assessora] foi inserida na condição de interrogatório, termo de qualificação de interrogatório. O que significa isso? Ela tem relação, ela tem participação, ela confirmou que monitorou a vitima nos dias que antecederam o fato, ela confirmou que utilizou um veículo especifico e locado para o senador. Ela confirmou que passava informações diretamente ao senador, acerca não apenas do monitoramento, mas do cotidiano da vítima e da filha da vítima”, detalhou o delegado.
O g1 tenta contato com a assessora. A reportagem também tentou contato com Telmário Mota para que ele se manifestasse sobre a operação, mas não havia tido retorno até a última atualização.
Pessoa de confiança
A dinâmica das ações que antecederam a morte de Antônia foi revelada em coletiva à imprensa na tarde desta segunda, após a operação “Caçada Real”, deflagrada para prender o senador, o sobrinho dele Harrrison Nei Correa Mota, suspeito de ajudar no crime, e Leandro Luz, responsável por atirar na vítima.
Cleidiane Gomes da Costa também foi um dos alvos da operação. A juíza do caso ordenou que ela seja monitorada por tornozeleira eletrônica.
“Para uma empreitada criminosa como essa exige-se que a pessoa que vai atuar tenha uma relação muito próxima e isso ficou demonstrado. Quando ela foi inquirida, ela confirmou que monitorou a casa da vítima, que sabia que o senador tinha uma medida protetiva em relação à filha dele, e que ele não poderia se aproximar como ele não poderia se aproximar, ele precisava de outra pessoa”, disse ao g1.
Planejamento de execução do crime
Imagens dos suspeitos de matar Antônia, no dia do crime, em setembro de 2023
Reprodução
As investigações indicam que o suspeitos planejaram o crime. A decisão de matar Antônia partiu de uma reunião na fazenda Caçada Real, onde Telmário Mota deixou o sobrinho Ney Mentira como responsável pela execução do crime. A fazenda foi um dos locais alvos de busca na operação.
“Muitos elementos de informação indicando que houve um planejamento da execução, houve uma logística necessária, o nome da operação se reporta a um local onde houve não apenas o planejamento, não apenas reunião do grupo como também até um treinamento antes da execução. Então, ”Caçada Real na verdade diz respeito a fazenda do ex-senador Telmário Mota hoje na condição de foragido”.
Informações preliminares da Polícia Civil indicam que o ex-senador está em Brasília, onde policiais tentaram localizá-lo. Como não foi encontrado, ele passou a ser considerado foragido às 13h (horário local).
Investigadores descobriram que a moto usada pelos assassinos no dia do crime foi comprada pelo sobrinho do ex-senador. Segundo a polícia, o veículo foi adquirido por R$ 4 mil em espécie, estava em nome de outra pessoa e com documentação irregular.
Cleidiane Gomes da Costa, segundo a Polícia Civil, ficou uns dias com a moto usada no dia do crime; Telmário é suspeito de mandar matar mãe da filha
Arquivo pessoal e reprodução/Facebook
A moto foi entregue para a assessora, que levou à uma oficina para fazer ajustes. Depois, ela entregou para os autores do crime em um local indicado na véspera do assassinato.
“A motocicleta foi localizada através de alguns recursos de alguns mecanismos de investigação. A gente conseguiu identificar essa moto através da placa, depois fizemos novas diligências e alcançamos a informação que essa moto de fato chegou para o Ney, que é o sobrinho do Telmário, também confirmamos que essa moto passou um certo período de tempo na casa da Cleidiane, que era a assessora do parlamentar, e que na véspera do o crim, e isso consta nos altos, na véspera do crime, a moto foi repassada a outros receptores na noite do dia 28”.
A vítima foi assassinada três dias antes de depor no processo em que Telmário é acusado de estupro pela filha. Para a juíza, ela era “testemunha chave neste processo” e que a sua morte “certamente beneficiaria Telmário”.
“Há muitos indícios indicando que a vítima já tinha uma relação com o provável mandante, essa relação passou a ser desastrosa nos últimos 12 meses, onde temos uma circunstância que envolve um processo criminal que iniciou em 2022, onde o ex-senador responde a um crime. A vítima desse crime de execução era uma testemunha importante para aquele outro processo e alguns dias antes de ela ser ouvida ela foi executada”, disse o delegado Evangelista.
Delegado-geral da Polícia Civil Eduardo Weiner, delegado João Evangelista, promotor de Justiça Joaquim dos Santos e Ellan Wagner, secretário adjunto da Sesp.
Ronny Alcântara/Rede Amazônica
Ainda segundo o delegado, testemunhas do caso têm medo de retaliações, o que torna as investigações mais complicadas e por isso contam com o apoio do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Na manhã desta segunda, após a operação, o g1 esteve na casa de Antônia, onde ela foi assassinada, mas o marido dela não quis conversar com a reportagem por medo de ameaças.
Telmário e o sobrinho seguem foragidos. A Polícia Civil ainda não identificou quem conduzia moto no dia do crime e também não localizou a arma. As suspeitas da Civil é que a arma usada no assassinato foi uma pistola de calibre 380 ou 9 mm.
“A gente confirmou, através da perícia, que a pessoa que efetuou o disparo precisaria ter manuseado, manejado, essa arma ou outra, próximo ao crime. Porque? Porque a cena, o exame pericial que foi no local, ficou demonstrado que a vítima foi executada de uma forma muito singular, de forma cirúrgica”, completou.
Agora, a Polícia Civil tenta localizar os foragidos para aprofundar as investigações.
Quem é Telmário Mota
Saiba quem é Telmário Mota, ex-senador investigado por mandar matar a mãe de sua filha
O ex-senador da República por oito anos, Telmário Mota, de 65 anos, é procurado pela Polícia Civil de Roraima. Formado em economia e contabilidade, Mota começou a carreira política em 2007 na Câmara Municipal de Boa Vista, quando assumiu uma vaga de vereador por ter ficado como primeiro suplente na eleição municipal de 2004.
Porém, ele só foi eleito dez anos depois, em 2014, como senador, quando fazia fortes críticas a Romero Jucá (MDB), quem dizia ser seu rival político.
Já nas eleições de 2018, ele foi candidato ao governo de Roraima pelo PTB, mas não se elegeu. Durante a campanha, o então candidato se autopromovia como “doido” e pedia para que os eleitores o dessem uma chance por isso.
O político roraimense também é conhecido por se envolver em polêmicas, como: teoria falsa sobre planeta Nibiru, rinha de galo, realização de festas durante a pandemia da Covid-19 e outros casos.
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