Tema da redação do Enem 2024 surpreendeu, diz professora

Josy Kelly, professora de redação, comentou que a escolha do tema surpreendeu alguns professores. O tema da redação foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Tema da redação do Enem 2024 surpreendeu, diz professora
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Josy Kelly, professora de redação, comentou sobre o tema e falou que a temática surpreendeu alguns professores, mas segue o padrão do Enem.
“Nós, enquanto professores, ficamos um pouco surpresos porque o Enem trabalhou com o eixo cultural recentemente, em 2022, e aí veio novamente, ainda mais com as mesmas palavras, como ‘desafios’. Então, isso acabou nos assustando, mas isso não impede que o candidato tenha um bom desempenho”, disse a professora.
Veja o gabarito extraoficial do Enem
A prova costuma explorar temas atuais, como diversidade, desigualdade e cultura, para estimular uma visão crítica entre os jovens. Josy Kellu explicou que a escolha temática gerou expectativas e discussões sobre a importância de ampliar os eixos abordados no exame, permitindo que o Enem funcione como um espaço de visibilidade para temas que muitas vezes são pouco explorados nas práticas pedagógicas.
“O Enem seguiu essa linha de raciocínio de trabalhar com o eixo social, com o eixo cultural, e nós víamos com a expectativa dele [Enem] romper com isso, abordando outros eixos, outras temáticas que já tem um tempo que não é cobrado na prova. O Enem traz esse tema super pertinente, atual, necessário, e que precisa ter visibilidade. Então, por isso que ele fala dos desafios com relação a herança africana, para que a gente realmente consiga dar visibilidade a essa temática, a essa cultura, a esse povo, então o candidato conseguiria falar de muita coisa, e o próprio texto motivador ajuda a isso”, enfatizou Josy Kelly.
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Confira o tema da redação do Enem em outros anos
Enem 2023 – “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”
Enem 2022 – “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”
Enem 2021 – “Invisibilidade e Registro Civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”
Enem 2020 – “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”, na versão impressa; e “O desafio de diminuir a desigualdade entre regiões no Brasil”, na digital.
Enem 2019 – “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”
Enem 2018 – “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”
Enem 2017 – “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”
Enem 2016 – “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”
Enem 2015 – “A Persistência da Violência contra a Mulher na Sociedade Brasileira”
Enem 2014 – “Publicidade infantil em questão no Brasil”
📚 A partir do tema da redação, a professora Josy Kelly sugeriu dois repertórios que os candidatos poderiam ter usado na prova de produção textual com essa proposta.
Festas populares no Brasil – obra literária escrita por Lélia Gonzalez
A professora Josy Kelly sugeriu o livro “Festas populares no Brasil”, que é uma obra literária escrita pela antropóloga Lélia Gonzalez, que foi pensadora, acadêmica e militante do movimento negro brasileiro. O livro foi publicado em 1987, pela editora Boitempo.
A obra reúne textos informativos sobre diversas festas brasileiras, afro-brasileiras e de igreja, e aborda temas como a herança africana na cultura brasileira, a integração entre o profano e o sagrado, e a contínua reinvenção das tradições religiosas. Josy explica que a obra aborda questões culturais importantes que podem ser referenciadas na redação.
“Como repertório, trouxe como sugestão a obra ‘Festas populares no Brasil’, da Lélia. Ela fala muito sobre essa questão cultural, as danças, as tranças, a comida, essa invisibilidade desse povo diante do nosso contexto histórico, diante da nossa herança cultural, e [com essa sugestão] o candidato consegue falar sobre isso. Herança cultural, invisibilidade, a própria desigualdade”, sugeriu.
Premiada na Alemanha como um dos “mais belos livros do mundo”, na Feira de Leipzig, a obra foi relançada em uma edição que inclui mais de 100 imagens, textos e documentos que ampliam sua profundidade e alcance. Esta edição atualizada também conta com o texto integral de Lélia, proporcionando uma experiência ainda mais completa e imersiva sobre a riqueza e a diversidade das festas no Brasil.
Trecho do livro
“Se o bumba meu boi ocupa lugar de destaque no quadro do folclore brasileiro, isso acontece porque, ao se adaptar às circunstâncias de lugar e tempo, ele demonstra um extraordinário vigor e uma especial maleabilidade. Cumpre ressaltar que, por isso mesmo, o bumba meu boi foi levado para a África, com todas as suas características brasileiras. Levado da Bahia para a cidade de Lagos, na Nigéria, por ex-escravos que para lá retornaram após a abolição da escravatura. Vale notar que, enquanto “brasileiros”, seus descendentes não deixaram morrer uma tradição que lhes diz respeito”. “Aqui, mais que em qualquer outro lugar, a noção de ‘deus em nós’ confere plenitude ao significado de festa. As festas afro-brasileiras são o efeito simbólico de um extraordinário esforço de preservação de formas culturais essenciais trazidas de outro continente e que, aqui, foram recriadas sob condições as mais adversas. Afinal, a população negra não veio para o Brasil como imigrante, mas como escrava.
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20 de novembro – Dia da Consciência Negra
Josy Kelly, professora de redação, ainda sugeriu o Dia da Consciência Negra como aporte para embasar a construção de ideias na redação do Enem. O Dia da Consciência Negra passou a fazer parte das efemérides nacionais em 2003 e foi instituído em no calendário nacional pela então presidente Dilma Rousseff, sob a lei de número 12.519, no dia 10 de novembro de 2011.
“Nós tivemos também o Dia da Consciência Negra, que passou a entrar no calendário como feriado. Então isso pode ser pensado e levado em consideração para o candidato desempenhar e desenvolver dentro da prova”, finalizou Josy.
O dia da consciência negra surgiu na segunda metade dos anos 1970, sua primeira comemoração se deu por um grupo de 12 negros que se reunia no Clube Náutico Marcílio Dias, na cidade de Porto Alegre. O clube foi o único na cidade a ceder um espaço ao grupo, os outros clubes não permitiam que afrodescendentes frequentassem seus espaços. A data de 20 de novembro marca a morte de Zumbi dos Palmares, assassinado por tropas coloniais brasileiras em 1695 e líder do Quilombo dos Palmares, que resistiu por 95 anos na Serra da Barriga, em Alagoas.
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