Dia do Saci: conheça a ave que carrega o nome do personagem folclórico


Espécie é associada ao ser folclórico saci-pererê e à lenda amazônica da Matinta Perera. Segundo o biólogo Luciano Lima, o nome popular saci (Tapera naevia) é uma onomatopeia de uma das vocalizações mais comuns da espécie, que é composta por duas notas.
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No Brasil, o Dia do Saci é celebrado em 31 de outubro, coincidindo com o Halloween (Dia das Bruxas), e essa sincronia não é mera casualidade. A escolha intencional de posicionar a celebração do ícone do folclore brasileiro no último dia deste mês tem como propósito resgatar e enaltecer a cultura nacional, juntamente com seus mitos, tradições e narrativas.
O saci-pererê é um ser travesso, geralmente representado como um menino de uma perna só, que usa um gorro vermelho e tem poderes mágicos – como o de desaparecer e aparecer onde quiser. Mas além do memorável ser folclórico, você sabia que também existe um outro “saci” na natureza?
A ave ocorre desde o sul do México, até o norte da Argentina e Uruguai, incluindo todo o Brasil.
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Esse indivíduo na verdade é uma ave. Segundo o biólogo do Terra da Gente, Luciano Lima, o nome popular saci (Tapera naevia) é uma onomatopeia de uma das vocalizações mais comuns da espécie, que é composta por duas notas. De onde também derivam outros nomes populares para o mesmo animal, como peixe-frito, tempo-quente, sem-fim e crispim.
“Embora cante repetitivamente por longos períodos, incluindo durante a noite, é muito difícil localizar a ave pelo canto, característica que é atribuída também ao Saci do folclore. Segundo o folclorista Câmara Cascudo, ela possui um ‘assobio persistente, misterioso, inlocalizável e assombrador’. Dessa forma, provavelmente foi o canto da espécie que acabou associando-a a lenda do Saci”, explica Luciano.
O biólogo conta que a espécie também é associada a lenda amazônica da Matinta Perera, em que uma velha ou velho se transforma em saci durante a noite e quem a ouve cantar deve ofertar tabaco. Logo, ela irá buscar no dia seguinte. Caso a promessa não seja cumprida, uma desgraça acontecerá com a pessoa.
Mede entre 26 e 30 centímetros de comprimento.
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Outra homenagem que a espécie recebeu foi do renomado artista Tom Jobim, cantor, poeta, letrista e uma verdadeira mente brilhante. Ele que encontrava sua inspiração na natureza para criar suas composições, possui um exemplo marcante dessa influência observado na melodia de “Águas de março”, que habilmente reproduz o canto do saci (Tapera naevia).
A espécie
A ave ocorre desde o sul do México até o norte da Argentina e Uruguai, incluindo todo o Brasil. De acordo com Luciano, o animal habita áreas abertas com maior densidade de arbustos e bordas de florestas.
Apesar de ser uma espécie comum, é um bicho muito discreto e arisco, sendo mais fácil escutá-lo, do que avistá-lo.
O saci é considerado um parasita de ninhos. A fêmea deposita seus ovos no ninho de outras espécies que, sem se dar conta, assumem a tarefa de incubá-los e cuidar dos filhotes. Entre os “pais adotivos” estão espécies como curutié (Certhiaxis cinnamomeus), joão-de-pau (Phacellodomus rufifrons) e joão-tenenem (Synallaxis spixi). Assim que nasce, o filhote de saci mata seus irmãos com o objetivo de monopolizar os cuidados dos pais.
O saci é considerado um parasita de ninhos. A fêmea deposita seus ovos no ninho de outras espécies que, sem se dar conta, assumem a tarefa de incubar os ovos e cuidar dos filhotes.
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O saci mede entre 26 e 30 centímetros de comprimento. O macho pesa entre 40 e 58,4 gramas e a fêmea entre 40,4 e 59 gramas. É rapidamente reconhecido pelo seu canto mais característico, emitido de forma contínua ao longo do dia, no período reprodutivo, e mais espaçadamente no resto do ano.
Apresenta dois cantos distintos que são geralmente empregados em diferentes situações. O canto de duas notas é frequentemente utilizado quando o pássaro está distante de um rival, servindo para demarcar território.
Por outro lado, o canto de cinco a seis notas é tipicamente empregado ao amanhecer ou entardecer, ou quando o pássaro detecta a presença de outro indivíduo da mesma espécie dentro de sua área territorial. No entanto, observações e conclusões podem variar dependendo da região analisada.
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